Haras Caxambu e Caxambuense

Haras Caxambu e Caxambuense José Marcio Carvalho Leite. Ele tem 75 anos e nasceu 'aos pés' do manga-larga marchador. Seu avô criava e o pai também. Minhas rendas vêm do campo. E o preço?

Ele assumiu e preparou o filho Marcio, que aos 41 anos é seu braço direito no Haras Caxambu e tornou-se um respeitado juiz da raça, compondo a equipe de árbitros responsável pela condução dos julgamentos da exposição nacional, em Belo Horizonte. Há dez anos, essa feira reunia 500 animais. Em 2009, passaram pelo Parque da Gameleira 1.400 animais, informa a associação brasileira do marchador, que te

m 4.756 sócios e a cada ano recebe 400 novos criadores.

'Nunca tive uma indústria e não sei tocar outra atividade. Também inverno gado e meu orgulho é ter o filho, zootecnista formado, aqui ao meu redor. A filha seguiu viagem, é advogada em Belo Horizonte', diz. José Marcio, DNA forjado nas montanhas de Minas Gerais, mantém sua seleção secular às franjas da outrora pujante Caxambu, no sul do estado, cujos cassinos e águas regeneradoras são lembrados até os dias atuais. Foi ele quem melhor definiu a fase de transição vivida pelo cavalo no Brasil. 'O cavalo, além de servir de transporte para a riqueza de um país que se formava - o b***o também ajudou muito -, levava no lombo o fazendeiro para a cidade e para outros afazeres. Depois chegou o automóvel, que passou a ser novidade. Mais tarde, a seleção concentrou-se na beleza do animal, o interesse era pelas provas de morfologia, e o uso foi relegado ao segundo plano.' Ele prossegue: 'Hoje ocorre o retorno do brasileiro a suas raízes e o cavalo novamente é valorizado como montaria, seja na lida, nos esportes ou em eventos prazeirosos, como a cavalgada, verdadeira contemplação à natureza'. José Marcio diz que o manga-larga marchador é um animal polivalente, serve para o trabalho na fazenda e no lazer, o que explica o sucesso que a raça faz. Titular das marcas Caxambu e Caxambuense, José Marcio explica que a raça tem porte médio, é muito confortável e dócil. 'Ideal para as cavalgadas, é diferente de uma outra raça brasileira, a campolina, que é bem mais pesada', afirma. Ele possui 150 animais em seu plantel, de mamando a caducando, numa área de 90 hectares rodeada de morros. Vende lotes em leilão e a maioria na própria fazenda e informa que um cavalo está pronto para participar de cavalgadas aos quatro anos de idade. Um bom potro sem registro pode ser encontrado por até 2 mil reais. 'Muitos de meus compradores chegam de São Paulo e do Rio de Janeiro', diz. Mesmo sendo um nome conhecido e respeitado na criação de manga-larga marchador, com um elenco de notáveis como a égua Odessa Caxambu, grande campeã nacional de marcha em 2006, título mais cobiçado pelos selecionadores, José Marcio é um homem de hábitos simples. 'Deus me privou da inveja e da vaidade. Aprendi que a felicidade mora nas coisas humildes. Eu gosto mesmo é de ficar aqui com meus cavalos e procuro mostrar aos mais jovens que o bicho possui uma enzima cujo poder agrega as pessoas.' José Marcio só não abre mão de investir em tecnologias e revela que a superovulação, que permite a retirada de até três embriões das éguas, já é praticada na equinocultura nacional. Nada deixa a desejar, portanto, para o avançado trabalho genético feito para aprimorar o gado bovino. Seu filho, Marcio, controla o emprego das novas técnicas. Segundo Marcio, a mudança no mundo dos cavalos - da vitrine para o uso - é uma tendência, chegou para ficar. 'Relação com a natureza, preservação do meio ambiente, vida saudável, tudo tem a ver com os cavalos. Os criadores podem se preparar, já que esse mercado vai crescer ainda mais', observa Marcio, cujo currículo de juiz soma oito exposições nacionais. Ele explica que a crise econômica não deixou de assustar o mercado, principalmente a classe média consumidora, que foi castigada. 'No entanto, o cavalo mora no imaginário das pessoas. É tratado mais como um animal de montaria que de produção.'

Sem tirar os olhos das montanhas, José Marcio, que sobe e desce calmamente as escarpas quase verticais com seus sete funcionários, lembra que o pai morreu aos 84 anos montado num de seus cavalos prediletos. 'A gente o aconselhava a deixar de lado a montaria, mas ele amava demais seu ofício para permanecer quieto num canto da casa.'

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