26/07/2023
Cachorro bravo, o que é?
Há muita confusão entre as pessoas que convivem com cães do porte do Pastor Alemão, mas é importante entender que latir no portão em nada tem a ver com proteção e guarda, abaixo postarei parte de um texto de Riane, adestradora e fundadora da Cão & Equilíbrio, sobre a reatividade, um dos fatores que causa muita confusão, é um pouco longo, mas é bastante esclarecedor, vale a pena:
"Um cachorro bravo é um cão que provavelmente está com medo ou está respondendo a um instinto, seja ele de proteção do seu tutor, território ou recursos. Contudo, é importante que logo no início do nosso post fique bem claro que cães não nascem bravos. Então, o que acontece às vezes é que os tutores não sabem qual melhor maneira para ensinar e educar seus pets e essa falta de conhecimento pode fazer com que o cão responda de modo agressivo ou violento.
É verdade que existem cães geneticamente predispostos a serem bravos e por esse motivo que sempre indicamos que conheçam os pais para saber qual é o temperamento de ambos. Mas ter uma predisposição à agressividade não é suficiente para tornar-se um cão por si só agressivo. Talvez seja um filhote um pouco mais difícil de treinar e sua tolerância seja mais baixa. Mas com um bom treino e avaliação é possível traçar um plano de treinamento de filhotes para evitar que esse cãozinho venha desenvolver comportamentos agressivos futuramente.
Como saber se ele é bravo ou reativo?
Cães reativos são cães que reagem de modo exagerado e desproporcional diante de um estímulo, certamente um cão reativo é um cão que não sabe como reagir ou agir diante de um estímulo ou situação. Isso pode signif**ar que um cão que saia correndo desesperadamente quando ouve um barulho e ele é tão reativo quanto um cão que late quando passa uma moto na rua. Portanto, um cão reativo não necessariamente é um cão bravo e agressivo, mas um cão agressivo sempre é um cão reativo.
A reatividade funciona como um pequeno empurrão para um comportamento agressivo e devemos lembrar que a agressividade é uma patologia e na grande maioria das vezes tem origem em cruzas indevidas somado a falta de conhecimento do tutor em como lidar com aquele indivíduo. Além disso, dificilmente possui apenas uma causa, a agressividade na maioria das vezes é multifatorial.
Um cão pode ser reativo por vários motivos e dentre eles podemos destacar:
Medo;
Posse de recursos;
Frustração;
Falta de sociabilização;
Falta de rotina diária;
Estresse;
Um cão reativo pode apresentar vários comportamentos como:
Latidos constantes;
Corpo rígido de alerta (não necessariamente ataque);
Olhos alertas e corpo tenso;
Quanto menor a aproximação do estímulo maior a explosão;
Dificuldade em relaxar;
Intolerância a excitabilidade do estímulo (cães ou humanos);
Fuga desenfreada.
Um cão agressivo pode apresentar também todos esses comportamentos acima. Mas com um acréscimo do ataque. Isso porque um cão agressivo é um cão que aprendeu que morder funciona muito bem para afastar o estímulo ou conseguir o que deseja. Então, trata-se de um cão que já passou por todos os degraus de sinais e de reatividade e foi punido ou negligenciado.
O que fazer?
O primeiro passo quando estamos lidando com um cachorro bravo ou agressivo é afastar-se do estímulo assim que você perceber qualquer sinal de desconforto. Os cães possuem basicamente três comportamentos quando se veem diante de um estímulo que julgam desconfortável ou ameaçador:
Afastar-se;
Congelar;
Atacar.
É importante destacar que ao longo da vida do seu pet ele vai encontrar estímulos que ache ameaçador. Então o primeiro passo para lidar com maestria com um cão bravo é conseguir identif**ar quando o desconforto ocorre e afastá-lo, reforçando o comportamento de AFASTAR-SE. Afinal um cão que aprendeu que basta se afastar do que o incomoda, jamais preferirá atacar.
Os cães são animais naturalmente sociáveis que convivem em matilha. Isso faz com que instintivamente prefiram evitar um conflito do que o combate. Afinal já pensou quão desvantajoso pode ser quando uma matilha briga e disputa entre si?
O segundo passo é não postergar o início do treinamento, comportamentos agressivos não são e não devem ser negligenciados ou interpretados como algo normal. Com certeza você já ouviu a famosa frase: Deixa que eles se resolvam. A partir do momento que damos carta branca aos nossos cães para que se resolvam, também damos a liberdade para que tomem atitudes mais bruscas como atacar por exemplo. E é inegável que assim que nosso cão atacar um outro cão ou outra pessoa teremos de interferir e afastá-lo do estímulo reforçando então a ele que para afastar o que lhe incomoda é necessário ser agressivo. Isso porque todos os sinais menos bruscos dados anteriormente não são funcionais. Então ao menor sinal de desconforto interfira SIM, leve seu cão a um ambiente mais calmo e agradável e treine esse gatilho em um momento mais oportuno respeitando o tempo e tolerância do seu pet.
Como cuidar?
Um cão pode demonstrar desconforto de várias formas, dentre elas:
Bocejar, lamber o nariz, piscar os olhos;
Virar a cabeça, desviar o olhar;
Virar o corpo, sentar, dar a pata;
Recuar, afastar-se da situação;
Agachar-se, orelhas para trás;
Ficar agachado, cauda entre as patas;
Deitar-se, levantar a pata;
Corpo tenso, olhar fixo;
Rosnar;
Abocanhar;
Morder.
É de suma importância que sempre que observar algum comportamento como os descritos acima afaste seu cão, observe a situação para que consiga identif**ar qual estímulo lhe gerou desconforto. Seja o porto seguro do seu cão, mostre a ele que pode contar com você e que ele não precisa resolver sozinho. Para isso, lhe dê variáveis de comportamento e mostre que existem rotas de fuga. Dê uma olhada de perto para a rotina do seu cão e se pergunte:
Meu cão está tendo atividades suficientes?
Estou dando atividades demais?
Estou sobrecarregando-o?
O que aconteceu horas antes pode ter influenciado?
A reação dele foi realmente exagerada ou a pessoa ou o outro cão que forçou a barra?
Com todas essas respostas podemos traçar um perfil comportamental mais preciso e então montar um ambiente controlado (ou seja, nem estímulo demais nem de menos) para podermos treinar e dessensibilizar o que causou medo ou desconforto. Entretanto, não queira ensinar ou educar seu cão enquanto a “bomba” explode, não terá efeitos educativos só aumentará ainda mais a frustração e estresse. Toda a aproximação do estímulo deve ser gradativa e respeitando o espaço de cada pet e devemos entender que isso funciona de uma intensidade diferente para cada indivíduo, para alguns cães um cão há 1 km está próximo demais, para outros o outro lado da rua já basta, então a chave é: OBSERVE."
Sempre cabe lembrar que só através de adestramento será possível que um cão, preferencialmente calmo e equilibrado, faça uma efetiva guarda e proteção.