SÓTÃO depósito artístico

por Laura Miranda

31/03/2018

a novidade chegou
abalou
fez da sofrência um axé
e me chamou pra dançar

eu falei que não tinha coordenação motora
nem ritmo
falei que era tímida e que não sabia como
falei que queria ficar sentada

inventei uma desculpa
inventei essa metáfora

mas não resisti quando soltou o batidão:
rebolei a noite toda
o dia seguinte também
e no outro não descansei

cantarolei de segunda a sábado
aquela melodia que não saía da cabeça
cantei no banho,
no bar,
na rua,
e me vi de novo
nessa ânsia
de remexer o quadril

no domingo eu fui ressaca
era julho mas pareceu quarta
de cinzas

(aproximadamente agosto/2017)

[nota da autora: esse poema eu escrevi bêbada, esqueci e encontrei três dias depois perdido no bloco de notas com o título "achei ruim". sei exatamente o que e quem me inspirou a escrever, mas talvez seja sobre ter dificuldade de encarar as mudanças (e depois se entregar a elas) e sobre sentir, aos 20 anos, urgências quase pré-adolescentes. não sei se ainda acho ruim, nem se era sobre isso mesmo que eu tava tentando falar. como eu não lembrava de ter escrito, interpretei como se fosse de outra pessoa.]

hoje eu sonhei que estava bêbada e vomitava na rua. junto a todas as nojeiras, meu coração saía também, pela boca, arreb...
31/03/2018

hoje eu sonhei que estava bêbada e vomitava na rua. junto a todas as nojeiras, meu coração saía também, pela boca, arrebentando várias artérias pelo caminho e caía pulsante, bem no meio-fio. eu, apoiada no poste, observava a maçaroca vermelha vibrar e sangrar pela calçada, pintando a rua das laranjeiras de um vermelho vivo, aliás, agora morto. enquanto limpava o rosto nos braços, senti uma enorme satisfação ao ver o ma***to músculo finalmente caído, derrotado na sarjeta, e pensava "agora sim". cuspi em cima dele e saí andando, aliviada e sóbria. acordei frustrada por saber que não era real

hoje eu acordei
me afogando no vazio

hoje eu acordei
e ainda sentia

hoje eu acordei
mas não queria

hoje eu acordei
e fiz uma rima que nem era bonita
só pra dar forma
a não sei mais o quê

hoje eu acordei
com essa dor ao meu lado
ontem também
e antes de ontem

mas hoje eu acordei
e quis não fazer questão
mal acordei e já me cansei
e parece
que não acaba
esse cansaço
essa dor e o tal vazio que sufoca

hoje eu acordei com medo
medo de sentir medo
medo de ter medo de sentir medo
medo de sentir
e só

(pós carnaval/2018)

***

giz de cera sobre papel, dezembro/2017

31/03/2018

pretérito mais que perfeito
na minha mão o seu cheiro
só reafirmava
aquilo que de nós
restara:

nada

(carnaval/2018)

21/07/2016

FELIZ DIA DO AMIGO

Depois de uma manhã quase toda matando aula na casa dela, acordou e percebeu que o lugar para onde ela ia era o mesmo que o dele. Foram juntos, como sempre conversando sobre política e outras coisas de que não se fala muito, pelo menos não em voz alta.
Pararam na banca de jornal pra comprar talvez cigarro, bala, algo como uma dessas necessidades de que amigos lembram uns aos outros. Ele pegou uma lata de guaraná na geladeira, deu a ela um toddynho e seguiram andando.
- Eu amo toddynho, ela disse.
- Eu amo a minha mãe, ele respondeu.
- Também amo a minha mãe. E amo a sua também.
- A sua também.

Brindaram.

20 - 21/07/2016

08/07/2016

A DIEGO VIEIRA, ORLANDO E TODAS AS BOLSAS REJEITADAS EM BANCOS DE SANGUE

meu amor morreu num domingo
e continuou morrendo
a cada 26 horas, ele morre mais um pouco

meu amor ousou ter liberdade
neste ma***to país
livre, eles disseram
but intolerance shot us all

will you be my valentine
‘cause this feels like Columbine

mom, they shootin’ at the club
call nine one one
I’ll be needing their blood

to be free or not to live
is that the question?
(that’s fu**ed up.)

pulse, coração
deve ser o jeito
pois se não há direito de existir
podemos ao menos
resistir

12/06 - 08/07/2016

[eis aqui um poema, um resumo, uma brainstorm, uma viagem, uma brincadeira, um do-que-você-quiser-chamar sobre a minha p...
12/05/2016

[eis aqui um poema, um resumo, uma brainstorm, uma viagem, uma brincadeira, um do-que-você-quiser-chamar sobre a minha primeira saída de palhaço na rua e alguns narizes vermelhos pra amenizar a tristeza dos últimos momentos]

Captação
de emoções
Turbilhão
de sentimentos, de curiosidades

Difícil descrever as sensações
O brilho nos olhos de quem te corresponde
As dores no corpo que só surgiram quando o figurino foi embora
O choro da criança que foi silenciando enquanto ela te olhava correr ao lado da janela do carro em movimento

Tô imunda por você
Tô imunda do fundo do meu coração

Tudo é atraente
Tudo é atrativo
Eu quero subir nesse poste e naquele também
O que vocês estão fazendo presos aí, dentro de si? Vem brincar aqui fora

Você quebrou isso, você viu que quebrou, né?
Não vi não fiz não sei se respondo
Porque eu não sei se eu sou eu ou se eu sou um personagem ou se o personagem sou eu
Ou se…
Você quebrou
Agora eu vi sim, mas não, não foi por querer, viu é só encaixar, eu quero descer daqui, não quebrei nada não senhor, eu quero brincar com os outros

É muito estranho andar na rua sem nariz porque tudo ainda me deixa muito curiosa e eu observo as pessoas de uma forma tão instigada que poderia render coisas lindas, mas elas não reagem e eu caio no chão porque ninguém tava olhando pra mim
Olha pra mim, ou melhor, olha comigo
“Interessado, não interessante”
O interesse necessário

Eu queria que esse tipo de interação não fosse vista como coisa de maluco; mas talvez eu até prefira ser tomada como louca mesmo, porque isso de “ser normal” é a maior hipocrisia já inventada pelo ser humano
Que palhaçada

Personagem, definitivamente
Ou só pelo resto do dia

21/12/2013

12/05/2016

no controle real
da vida remota
onde é que toca
pra mudar de canal?

30/5/2014

03/05/2016

POEMA DE AMOR ESCATOLÓGICO

tentei ser menos clichê
pra poder falar de você
sem te fazer vomitar

mas esse amor é chiclete que eu engoli
me deu dor de barriga
e vontade de c***r

nada de borboletas
aqui dentro é só fluido, sangue e gases
toda essa porcaria
que ninguém gosta de falar

não é pra ser bonito
muito menos cheiroso
esse amor é horroroso
e fede que nem lixo

te fiz esse poema
bem fedorento
pra dizer que te amo dos pés
ao seu nariz melequento

2/5/2016

03/03/2016

o corpo inteiro arrepia
não sei se frio
ou poesia

05/11/2015

meu coração estirado no batente
declama um poema prepotente
sobre a porta que nunca soube fechar-se definitivamente

se rima pobre não sente
como é que a minha arde
incessantemente?

calor latente que Vinicius jamais sonetaria
como dois de quatro, a dois ou a três
meu verso canta em meio a gritaria
num desafinado português

28/10/2014

02/11/2015

pre.ci.pi.ta.ção

s.f. que antecipa o precipício

18/11/2014

CONCRETOeu e vocêmuito pertomais ninguémsilêncio absolutovocêlá longegente no caminhomuito barulho…finalmente nós - estr...
29/10/2015

CONCRETO

eu e você
muito perto
mais ninguém
silêncio absoluto

você
lá longe
gente no caminho
muito barulho



finalmente nós - estrondo



A chuva já era muita lá fora, mas demorou a chegar aqui dentro. O terremoto abriu um vão entre nossos corpos e agora assistimos atentamente à queda de tudo que jogamos lá embaixo. Era menos de um palmo, mas doeu um quilômetro; eram só dois anos, mas senti quatro.

nós
desatados
a gente
separado

eu

vazio

e você

24/3/2015

28/10/2015

~SEJAM BEM VIADOS~

é assim mesmo, não tem nada ainda não mas amanhã começo a postar as coisas que já estão no sotaodemim.tumblr.com
devagar e sempre a gente chega lá

Endereço

Rio De Janeiro, RJ

Notificações

Seja o primeiro recebendo as novidades e nos deixe lhe enviar um e-mail quando SÓTÃO posta notícias e promoções. Seu endereço de e-mail não será usado com qualquer outro objetivo, e pode cancelar a inscrição em qualquer momento.

Compartilhar

Categoria