08/10/2021
Mas... O quê que tu faz mesmo?
Ao longo destes poucos anos de trabalho já me deparei inúmeras vezes com esta pergunta: “Mas o quê que tu faz mesmo?”. Explico, mas sempre fico com uma sensação desconfortável de que eu não consegui responder.
Educadora Canina, vulgo, adestradora de cães.
Normalmente, a pessoa recebe a informação com surpresa, alguns f**am curiosos e querem mais informações... Eu me empolgo e discorro longamente sobre a profissão apaixonante que eu escolhi e que me escolheu.
Outros, apesar da igual surpresa, não questionam nada e imagino que devam pensar algo do tipo “Não deve ter dado certo em mais nada e diz que ama animais: virou adestradora.”
Uma coisa é certa, mesmo quando tenho a oportunidade (e ouvidos atentos) de falar das coisas incríveis que consigo realizar com meu trabalho e do quanto esse trabalho signif**a pra mim, mesmo assim, é impossível dizer tudo, impossível expressar a dimensão disso na minha vida e na vida das pessoas com as quais tenho a oportunidade de trabalhar.
Educadora Canina
É tão maior do que o nome diz... E voltando a pergunta inicial:
O quê que tu faz mesmo?
Eu ajudo as pessoas a entender melhor seus companheiros peludos, a ver e se relacionar de uma forma diferente com seus doguinhos, muito mais saudável e prazerosa para os dois, para a família multiespécie toda.
Eu ajudo os donos de pet a virarem Tutores responsáveis e empoderados.
Eu ajudo esses Tutores a oferecer o verdadeiro MELHOR para seus cães, porque ensino a eles o que REALMENTE o cão precisa para ser feliz e equilibrado, o que o cão está “querendo dizer” com aquele comportamento, ou o que ele está tentando comunicar.
Mas o melhor de tudo é que eu ajudo essas famílias multiespécies a entender que a relação ali não é de disputa, que ninguém tá tentando dominar ninguém e que não precisa ser na força ou com imposição. Liberto esses Tutores da terrível (falsa) obrigação de ser o líder da matilha que precisa ter o controle sobre o cão e que precisa ser firme, ter voz de comando, ser duro e mostrar quem manda. Liberto esses Tutores para serem companheiros de seus cães, amigos fiéis, protetores eficientes e provedores com propriedade.
Ah! Claro! Além de tudo isso, ainda ensino os Tutores a ensinar comandos (comunicação) e truques aos seus dogs.
Pois então... Aquela pergunta poderia ser facilmente (e, talvez, mais adequadamente) respondida de outra forma:
Educadora de Tutores
Adestradora de Pessoas
Sim! Algumas pessoas podem se ofender, mas antes de ensinar qualquer coisa para um cão, antes de pensar em corrigir qualquer comportamento, o Tutor precisa saber o porquê que aquele comportamento está acontecendo. Por que o cão aprendeu assim? Que tipo de comportamento que a família está tendo com esse cão para ele estar respondendo dessa forma? O que está faltando para este cão para estar tão agitado, desequilibrado ou agressivo?
Não existe cão mal, existe é uma má condução por parte do humano que tem efeito no comportamento do cão.
Não é sobre o que eu acho que o cão precisa, ou sobre o que tu tens a oferecer. É sobre tu, enquanto Tutor, buscar conhecimento adequado que possa te dizer o que o teu cão precisa, enquanto cão, para que possas adequar as necessidades dele às tuas possibilidades.
Para terminar, acredito que, quando uma pessoa assume essa postura, de querer entender melhor este serzinho que lhe acompanha e dividi a vida, quando um Tutor aceita descer daquele pedestal de quem sabe tudo e que é um bom líder da matilha e aceita tomar uma posição mais igual e humilde, admitindo que, talvez, saiba muito pouco sobre seu cão, mas que quer saber mais para melhorar suas vidas juntos, abrem-se tantas possibilidades, inclusive, de enriquecimento pessoal.
Não é à toa que estou cursando Psicologia, não é por acaso que a Profissão de hoje se atravessa tanto com a Profissão de um futuro (já menos) distante. Na verdade, uma alimenta a outra, pois foi na Psicologia (na cadeira de Psicologia Experimental) que tive o primeiro contato com essa possibilidade de uma outra forma de adestrar animais e quanto mais atuo como Educadora de Tutores, mais me interesso pelas pessoas e suas potencialidades, principalmente, de ser e fazer melhor.
Nas imagens que ilustram este “pequeno” texto, estão meu Quarteto Fantástico, elas são o princípio de tudo, antes de virar adestradora, precisei aprender a ser Tutora Responsável.