17/10/2024
NÃO É SÓ ANTISSEMITISMO
Muito do que se diz por aí sobre Israel e sua luta contra o Hamas e o Hezbollah é antissemitismo puro e simples, propaganda neonazista travestida de "antissionismo" e, portanto, não merece atenção.
No entanto, nem tudo é antissemitismo quando se trata de atacar Israel. Há uma certa crítica, ou falta de senso crítico, que parte não de adoradores da suástica, velados ou não, mas de gente que é, ou deveria ser, acima de qualquer suspeita.
Pessoas que até condenam retoricamente crimes inomináveis como o de 7/10, e declaram solidariedade às famílias dos mortos. Mas que têm dificuldade em aceitar o direito - e o dever - de Israel de se defender (uma contradição em termos, para dizer o mínimo).
Não são pessoas más, nem cínicas, nem mal-intencionadas. Tampouco são ignorantes, nem carecem de capacidade cognitiva. Pelo contrário: em geral, é gente muito culta e educada, inteligente até. É - ouso dizer, embora possa estar enganado - gente boa, de bom coração.
Gente, aliás, talvez bondosa demais, educada demais, civilizada demais. Do tipo que acredita no diálogo, na contenção, no multilateralismo e na ONU. São contra, por princípio, o uso da força em relações internacionais, assim como lhes repugna o uso da força em qualquer situação.
Numa palavra: são ingênuos - e a ingenuidade, como dizia o escritor inglês Graham Greene, é uma das faces da insanidade.
Por serem muito civilizadas, acham que a guerra no Oriente Médio é por território, e que tudo poderia ser resolvido numa mesa de negociação, como cavalheiros.
Acreditam, assim, que os ataques terroristas do Hamas ou do Hezbollah são uma resposta às ações de Israel. É tudo culpa da extrema-direita israelense, que anexa territórios e fecha as portas para a paz, acreditam.
Simplesmente não passa pela cabeça dessas santas criaturas que atrocidades como a de 7/10 - e tudo o que veio depois, em mortes e destruição - não resultam de nada que Israel faça ou deixe de fazer.
Não veem, ou não querem ver, que se trata de um conflito religioso, do Islã radical contra os "infiéis", e que a questão territorial é apenas um pretexto. Vivem, assim, em um permanente estado de negação.
Não conseguem entender o fenômeno do terrorismo islamita porque, gente boa que são, não são capazes de conceber que exista tamanha monstruosidade. Mas acontece que ela existe - e precisa ser enfrentada.
Qualquer que seja o governo em Tel Aviv, os terroristas islamitas continuarão a atacar e a massacrar civis inocentes, até todos os judeus serem exterminados, expulsos ou convettidos ao Islã. E mesmo que Israel deixasse de existir, o terrorismo islamita não desapareceria, e o Oriente Médio seguiria sendo uma zona de guerra, como mostram países como Síria, Líbia, Iêmen e Sudão.
Isso mostra que o problema não é Israel, mas os que não aceitam a sua existência - e, por extensão, também a de um Estado palestino.
Por não entenderem esses fatos, essas pessoas - repito: gente ilustrada, liberal, culta e cosmopolita - cometem erros básicos, como confundir Israel com Bibi Netanyahu e o Hezbollah ou o Hamas com os palestinos.
"Netanyahu quer se vingar dos palestinos para ficar no poder", disse outro dia Luizinácio, em mais uma de suas batatadas megalonanicas. Como se a guerra não tivesse nada a ver com os mísseis disparados pelo Hezbollah e pelo Irã, nem com o uso dos palestinos como escudos humanos pelos islamofascistas em Gaza e no Líbano - principal causa das mortes de civis, e outro fato que ignoram completamente.
Ironicamente, as mesmas pessoas que fecham os olhos para os objetivos dos fanáticos muçulmanos se mostram implacáveis com outros criminosos, como o ditador Putin, a quem condenam - com razão - pelo ataque à Ucrânia. Mas perdem de vista que, ao contrário de Putin, não é Israel o lado agressor e potencialmente genocida, mas o Hamas e o Hezbollah. Em uma inversão total da realidade, associam Putin a Israel, o que significa igualar o Hamas a Zelensky. Como se o tirano Putin tivesse sido "provocado" a invadir a Ucrânia...
(Aliás, o regime dos aiatolás do Irã, que financia os terroristas do Hamas e do Hezbollah, é aliado da Rússia e colabora ativamente com Putin em sua guerra de agressão à Ucrânia. Estão do mesmo lado.)
Mas se não é maucaratismo, nem burrice, nem ignorância, nem ideologia, o que explica então essa animosidade instintiva em relação ao Estado de Israel, e a cegueira em relação aos objetivos de seus inimigos?
A meu ver, a causa é mais profunda. É uma causa, digamos, psicológica.
Essas pessoas se recusam a se colocar ao lado de Israel, acima de tudo, porque não conseguem reconhecer o mal quando este aparece. Não aceitam que o mal existe.
É uma incapacidade psicológica que leva à superficialidade, ao pacifismo e a um principismo abstrato e ingênuo, algo comum em diplomatas. À perda do contato com a realidade. Algo semelhante a crianças que acreditam que, se fecharem os olhos, o perigo irá desaparecer.
Chamo esse fenômeno de "síndrome de Munique, 1938", quando pessoas igualmente civilizadas tentaram apaziguar Hi**er. Deu no que deu.
Na mesma época, na URSS, milhares foram fuzilados nos cárceres do regime stalinista com um "Viva Stálin" nos lábios, louvando o responsável por suas próprias mortes.
O mesmo ocorre, hoje, com o islamofascismo - recusam-se a admitir a existência do mal, por mais bárbaro e criminoso que ele seja e apareça a céu aberto.
É possível esperar, e exigir, diálogo e contenção de Israel, mas não de seus inimigos. Apelar ao direito internacional humanitário ou à proporcionalidade (a propósito, qual reação seria proporcional a quem jurou varrer um pais do mapa?) pode fazer algum sentido em Tel Aviv, mas não em Teerã.
Simplesmente não se pode esperar do Hamas ou do Hezbollah nenhum respeito a esses valores humanistas, assim como não se pode esperar nada além de crimes do ISIS e da Al Qaeda.
Reconhecer a existência do mal, conhecer o inimigo, é o primeiro passo para derrotá-lo. Mas, em vez disso, o secretário-geral da ONU, agora persona non grata em israel, soltou um "Não aconteceu no vácuo", justificando, na prática e na teoria, o pogrom de 7/10.
Em mais uma ironia, abriu-se a porta para comparações estapafúrdias entre a resposta militar de Israel ao islamofascismo com o Holocausto. Como não conseguem ver o mal onde ele existe, terminam enxergando-o onde ele não existe. Tomam genocidas por vítimas, e vítimas por genocidas. Invertem a realidade.
Ou seja: não estudaram a História.
Se estudaram, não aprenderam nada com ela.
E, se aprenderam, querem que ela se repita.