25/01/2024
📍 Castanheiro e MO- Sustentabilidade produtiva🌱
O castanheiro encontra-se numa fase de elevada pressão cultural, quer seja por fatores bióticos (Septoriose, Podridão Castanha, Cancro, …), como por fatores abióticos (Diminuição de horas de frio, temperaturas elevadas no verão, stress hídrico, …). A gestão dos resíduos orgânicos do souto (lenha de poda, folhagem, ouriços) deve ser encarada como parte fundamental na sua sustentabilidade produtiva, devendo por isso ser considerada um pilar fundamental em qualquer que seja o modelo produtivo. Compreender o impacto que a matéria orgânica possui na relação solo-planta, é cada vez mais um fator diferenciador no que diz respeito à capacidade de resposta aos desafios da cultura.
Com a pressão de doenças fúngicas que ano após ano se verif**am, nomeadamente a septoriose, é primente a gestão dos resíduos orgânicos de modo a reduzir o inóculo, limitando a ação do fungo nas campanhas seguintes. Assim é essencial conter o inóculo numa fase de fragilidade do seu ciclo biológico, que é sobretudo quando está mais exposto, encontrando-se em hibernação nas folhas e ouriços no solo. Os produtos de base cúprica são comumente utilizados tanto em modo profilático (Inverno/antes do abrolhamento), como em modo curativo, ou muitas vezes em conjugação com outras substâncias ativas (ex.: tebuconazol), no caso deste último. Deste modo seria conveniente pensar em utilizar este mesmo tratamento direcionado aos resíduos orgânicos que se encontram no solo, destruindo assim o inóculo de um modo mais ou menos ef**az. Esta prática vem sendo recomendada e posta em prática por parte dos produtores, assim como a queima destes mesmos resíduos. De facto, no curto prazo, parece evidente que pode ser uma alternativa economicamente viável e com resultados de certa forma imediatos. A longo prazo as desvantagens que advêm deste tipo de práticas culturais podem ter um peso determinante na sustentabilidade produtiva, económica e ambiental do modelo produtivo. Algumas das desvantagens compreendem os seguintes fatores:
➡️Acumulação de metais pesados no solo (Cu);
➡️Fitotoxicidade das plantas (principalmente plantas jovens);
➡️Diminuição da biodiversidade microbiológica;
➡️Consequente diminuição da mineralização da MO;
➡️Diminuição de MO no solo;
➡️Consequente diminuição estrutural do solo.
Tendo em conta os fatores enumerados, é necessário optar por medidas que continuem a ser produtiva e economicamente viáveis, mas que tenham influência direta na resolução do problema. A luta cultural pode ser preponderante neste caso, nomeadamente a fertilização, que assume uma dupla aptidão, suprindo as necessidades nutricionais das plantas e o combate fitossanitário indireto.
A fertilização azotada, mais concretamente a utilização da ureia, revela aptidão cultural no que respeita ao objetivo anterior, pois satisfaz a necessidade em azoto das plantas e acelera o processo de decomposição e mineralização da matéria orgânica, expondo o inóculo dos fungos fitopatogénicos (Septoriose, Podridão Castanha) às condições climatéricas, a fungos antagonistas benéficos e outros microrganismos. Tendo em conta a relação C/N dos resíduos orgânicos (considerando apenas ouriços e folhas no solo) verif**a-se que esta é alta (folhas- 53.8; ouriços- 83.3), indicando uma tendência para a imobilização da matéria orgânica em detrimento da mineralização, sobretudo em modelos produtivos que assentam em mobilizações mínimas ou não mobilização. De notar que a razão C/N ideal para a atividade microbiana apresenta o valor 24, portanto valores acima deste último poderão limitar a decomposição da MO. Deste modo a incorporação de azoto na forma de ureia é uma alternativa tecnicamente viável, pois facilita a sua aplicação e dispersão sobre os resíduos orgânicos através da pulverização, diminuindo a relação C/N e consequente promoção da atividade microbiana.
A ureia é a forma de azoto onde ocorrem maiores perdas na sua utilização, quer por volatilização, quer por lixiviação, considerando sobretudo a temperatura, humidade (atmosférica/solo) e pH do solo. Assim sendo, se por um lado temos perdas de azoto para satisfazer as necessidades da planta, por outro lado elevamos o limiar de erro no que diz respeita ao excesso de fertilização azotada e demais consequências no desenvolvimento fisiológico/produtivo do castanheiro. De qualquer forma, é conveniente a aplicação da ureia com coberto vegetal no solo, de modo a que as ervas retenham os excedentes de azoto e diminua o risco de contaminação de águas subterrâneas, nomeadamente por nitratos.
Assim sendo, para conseguir a redução da relação C/N dos resíduos orgânicos, pode utilizar-se uma calda com cerca de 20 a 40 kg/ha de ureia (46%), como uma concentração até 10%, distribuindo na parcela com especial enfoque nos locais de deposição de folhas/ouriços. A aplicação ideal deve ser efetuada com temperaturas baixas, antes de ocorrer chuva, evitando a aplicação em solos encharcados.
Foto: Nancy de Sousa