02/04/2024
Freya (mãe cega) e Ragnar (filho guia) para adoção conjunta- Ansião ❤️
Ainda aguardamos o seu final feliz, juntos... expectantes!
A Freya e o Ragnar vieram cá para casa há mais de 1 ano. Uma mãe abandonada à porta do canil municipal com 4 bebés. O estado em que estava mostrava aquilo que ela não consegue contar. Lembro-me do ar de pânico , do olhar vazio, da forma como deambulou desorientada no meu quintal quando chegou. Ela era cega e eu não sabia. O medo que deve ter sentido. As dores intensas.Aqueles dias no canil com tantos sons e cheiros e mãos que a pegaram sem pedir licença. Passou dias a fio fechada em si mesma dentro das 4 paredes naquele que foi o seu porto seguro durante vários meses. De onde só saía se eu estivesse dentro de casa. Recordo-me com muito carinho das primeiras vezes que reagiu ao meu toque, da estreia num terno lambeijo, da forma como desbloqueava e se desmontava quando o seu filho chegava junto dela. Foi um caminho longo e demorado. Feito com muito respeito e ao ritmo dela. Perdeu os olhos que de nada lhe serviam, eram só dor. Lutou imenso tempo contra um abcesso, só resolvido com cirurgia. Após alguns meses a cadela estátua começou a interagir, a ter iniciativa, a criar ligação. A primeira vez que ela subiu a rampa, junto com os meus cães, de língua pendurada e rabo a dar a dar , para me vir receber, eu fiquei emocionada. A primeira vez que ela veio ter comigo e se deixou tocar por mim, eu chorei (Ainda por cima estava grávida). Quando começou a confiar em mim demos mais um passo, conseguir andar à trela. Ela confiou e aprendeu. Superou e cresceu. Tornou-se numa cadela meiga e super sociável com qualquer pessoa. E passou a correr e a saltar, a subir e descer escadas. Ela até faz acrobacia e tantas outras coisas que mais parecem magia. Freya, prova viva da resiliência e superação.
Também o Ragnar , o cachorro assustado que fazia xixi sempre que alguém lhe tocava, se transformou num cão mais seguro. Ainda tímido, por vezes explosivo, mas mais confiante.
Decidimos não os separar e não sei ainda se isso os salvou, ou se de certa forma os condenou. Mas sei, o quão são felizes juntos.
Ao longo da minha gravidez tive a oportunidade de testemunhar o amor que esta cadela tem pelo seu filho. A forma como o protege e se ampara nele. A força que move montanhas, a pureza de um sentimento que nasce nas entranhas e não mais desaparece. E hoje, mais de um ano depois ela ainda o acarinha e lambe como se de um bebé se tratasse. E nele se ampara e aninha num leito de afeto sem fim. E ele ainda a procura e protege-a...e nela se refugia como se não fosse possível existir longe dela. E brincam , brincam e brincam sem nunca se fartarem um do outro. Nem mesmo enquanto estava cheia de dores, a recuperar da cirurgia, em pânico absoluto ou quando o filho abusa dela e é um chato do pior... nunca mas nunca ela se afastou dele ou lhe deu um simples "chega pra lá ".
Tornei-me mãe embebida neste amor. Que privilégio conhecer esta mãe coragem. Que sorte ter trilhado este caminho com estes dois potes de mel e ter contribuído para que hoje sejam dois cães tão alegres. Sim, dos 7 cães que na minha casa vivem a Freya é de longe a mais feliz. É a cadela que melhor me segue, a que nunca me "perde de vista". Mesmo sem ver. Mãe e filho são os mais agradecidos e os que mais festa fazem quando "vêem" os seus humanos emprestados logo pela manhã.
Já fui FAT de imensos cães. Com passados difíceis, feitios complicados. Diferentes desafios e histórias de superação, amores que guardo no coração para sempre. Mas estes dois... ai estes dois é uma paixão sem fim. Eu por eles, eles por mim.
E só queria que ganhassem o melhor presente do mundo, uma família onde sejam amados e respeitados e acarinhados na medida que merecem.
Nunca lhes faltará aqui o conforto e amor que me é possível dar. Mas eu tenho 5 cães, 2 gatos e agora fui mãe de uma pequena lapinha humana. Eles merecem mais do que as migalhas que eu lhes consigo dar.
Não quero um lugar qualquer para a minha dupla maravilha. Quero ficar com o coração despedaçado ao vê-los partir. E colar pedaço a pedaço ao constatar que finalmente estão onde devem estar.
Minha Freya, meu Ragnar, nunca vou desistir do vosso final feliz...