18/09/2024
Sempre existiu gato e existia a Gilda. Com suas patinhas simetricamente brancas e os olhões verdes e interrogativos, ela conquistava até o mais inveterado dos cachorreiros.
Meu avô, que sempre resgatou gatos na rua, não tardou a pegar a gatinha filhote que vivia subindo no Ipê Amarelo na frente de casa - apesar das múltiplas tentativas do vizinho de descê-la, ela voltava para o tal do ipê, como se soubesse que ali era o seu lar. Poucos dias depois de ter sido “oficializada” como dele, Gilda alcançou o lugar que nenhum dos quase 50 gatos (na época) tinha chego: dentro da casa - a desculpa? “A Laura gostou TANTO dessa gatinha! Vai que se perde”.
E assim os anos se passaram, com uma preferência descarada pela Gilda. Houve o dia que ela foi encontrada na calçada da casa e, mais que rapidamente, meu avô instituiu que a Gilda só sairia para o jardim com a condição que estivesse supervisionada. Um tempo depois ela passou o dia sumida, só para ser encontrada no alto do pinheiro que escalou e não conseguiu descer, pinheiro este que, lógico, foi cortado rapidamente para o fato não se repetir. Ele dizia aos 4 ventos que a Gilda era sua filha preferida e, conhecendo sua prole humana, não dá para discordar.
Eu poderia até dizer que conviver com a Gilda me ensinou sobre gatos, mas seria uma mentira. Ela era “encachorrada” demais. Fazia questão de recepcionar a todos que chegavam com um ronronado e não podia ver um humano na sala ou biblioteca que ia, completamente enturmada, participar da conversa. Comigo, fazia questão de deitar em cima dos livros quando estudava ou contribuir com notas graves e dissonantes quando eu tocava piano (à duas mãos e quatro patas). Já com o meu avô, passava horas diariamente na mesma posição: ele lendo no sofá e ela em seu colo.
Hoje ela se foi, em plena florada dos ipês amarelos, após 3 dias de uma doença rápida, aguda, que jamais se sobreporá aos 19 anos (muito) bem vividos. A casa um pouco mais vazia, mas no coração a certeza de que ainda existem muitos gatos, mas nenhum como a Gilda!
Foi uma honra ser sua desculpa para f**ar e um prazer inenarrável crescer com você, Gildoca! Agora você está com seu pai. ❤️🩹