27/05/2022
O LOP
Uma pequena introdução histórica:
LOP são as iniciais de Livro de Origens Português e trata-se de um registo genealógico fundado pelo Clube Português de Canicultura em 1936. Note-se que outros países europeus já detinham livros de origens há muito mais tempo, desde o Século XIX, nomeadamente a Alemanha, país onde se fundaram alguns dos clubes de raças caninas mais antigos.
Nos finais do século XIX existiam muitos países com sociedades caninas e clubes de raça, onde cada um tinha um sistema de classificação de raças diferente. Para racionalizar estas diferenças e uniformizar o conceito das várias raças em todos os países formaram a FCI, Federação Cinológica Internacional, que é neste momento a autoridade máxima no reconhecimento de raças novas, revisão dos standards, etc.
Os cães registados no nosso LOP são reconhecidos pela FCI.
O que é?
O termo LOP poderá não ser familiar a muitas pessoas, mas quem nunca ouviu falar em "pedigree"? Exacto, o registo no LOP é o equivalente português ao termo pedigree.
O registo no LOP é um documento que certifica que o cão que o detém pertence a uma determinada raça. Nesse documento podemos ver a ascendência do cão até aos seus bisavós, e que todos os cães da sua família são pertencentes a essa raça.
Na impossibilidade de se garantir inequívocamente a raça de um animal somente pela sua aparência e não havendo nenhum tipo de teste ou certificação genética para certificar a pureza de raça de um cão, o registo no LOP é a única forma de provar que o animal é de raça.
Logo e teoricamente, pode dizer-se que um cão sem LOP é de raça indefinida, embora na prática as coisas não sejam tão lineares... Vejamos, um casal de cães com LOP da mesma raça que produzem uma ninhada: os cachorros não foram registados do LOP. São puros? São. Pode provar-se? Não. Isto daria tema para outro tópico, mas reparem que não faz sentido reproduzir cães de raça pura e não registá-los no LOP...
Como se obtém o LOP?
Para que um cachorro tenha registo no LOP a condição essencial é ser filho de pais com LOP.
Existe a possibilidade de um cão sem LOP ser apresentado a juízes dessa raça para que o avaliem. Se a avaliação for positiva e se esse exemplar se enquadrar no padrão da raça, o CPC poderá atribuir a esse cão um RI ou seja, Registo Inicial
Esse cão vai ser o fundador da sua linhagem, ou seja, não terá quaisquer ascendentes registado no Livro de Origens, mas a terceira geração dos cachorros resultantes do seu cruzamento com outros cães registados da mesma raça poderão ter LOP, desde que tenham toda a sua ascendência traçada em RI e obtido Excelente numa exposição canina.
O criador é que pede a inscrição da sua ninhada no LOP, ou seja, não cabe aos donos fazerem o registo no LOP. Quando se adquire um cachorro de raça ele obrigatóriamente já estará inscrito no LOP. Ao novo proprietário é entregue um registo provisório que obriga a que o novo dono se cadastre como novo proprietário do animal (e lhe coloque o micro-chip) junto do CPC, recebendo depois o registo definitivo, onde consta:
:arrow: O número do registo;
:arrow: O nome do animal (escolhido pelo criador, o novo dono pode pedir ao CPC a mudança de nome mediante o pagamento de uma taxa);
- Os seus títulos em exposições caninas;
- A sua raça e o nº do standard dessa raça na FCI;
-: A sua cor e / ou variedade;
- A sua data de nascimento;
- O seu s**o;
- O nº do micro-chip;
- O nome e morada do criador;
- o nome e morada do proprietário;
- O resultado do despiste da displasia da anca (caso tenha feito e o dono tenha solicitado a sua inclusão no registo)
- A árvore genealógica do cão até aos bisavós, com nomes dos animais, títulos em expo e nº de registo.
O registo no LOP garante a qualidade / saúde de um cão?
Não. O registo no LOP certifica única e exclusivamente que o cão é de raça pura.
Cabe ao criador ético dar garantias de saúde e de temperamento (submetendo os seus reprodutores a exames de despiste às doenças genéticas a que a raça é propensa, seleccionando para reprodução apenas os animais de bom temperamento) bem como de conformação, ou seja, cruzando apenas animais que estejam dentro do standard da raça.
O facto de um cão ter LOP não certifica que é UM BOM EXEMPLAR, só certifica que EFECTIVAMENTE é um exemplar de determinada raça.
Um cão sem LOP pode participar numa exposição canina?
Não. Como o registo no LOP é a ÚNICA prova de que esse cão pertence a uma raça, sem o registo ele não pode concorrer.
É caro registar um animal no LOP?
Não. A declaração de registo de ninhada custa 18.50 Euros e o registo de cada cachorro 17.50 Euros. Logo, um criador que diga que vende "mais barato" sem LOP e que anuncie "com ou sem LOP, à escolha do freguês" não passa de mais um mercador de cães desonesto.
Porque é que há cães filhos de pais com LOP que são puros e não podem ter o registo?
Dois exemplos. os boxers brancos e os dogues alemães porcelana. São animais que nascem em cruzas "legais" ou dentro dos regulamentos por motivos genéticos a que o criador é alheio ou pelo menos se esforça por não perpetuar. Acontece que o standard de cada raça estipula determinadas cores de pelagem e pelo facto das cores dos cães que dei como exemplo estarem associados a perturbações genéticas que é de todo o interesse erradicar da criação (surdez, albinismo, problemas de pele, etc) eles serão puros mas não terão LOP para que não possam ser usados na criação.
Infelizmente há muito mercador de cães desonesto a vender estes animais como "raros" e ainda mais pessoas pouco instruídas e irresponsáveis a reproduzi-los...
NOTA: Estes casos já podem ter registo condicionado no LOP
Deve usar-se um cão sem LOP ou RI para reprodução?
Definitivamente, NÃO.
O objectivo da criação de cães deveria idealmente ser a preservação e melhoramento das raças caninas. Não existe nenhuma "boa" razão para que um cão puro não tenha registo.
Devo comprar um cão sem LOP?
Nunca. Se pretende adquirir um cão de raça o mínimo que deve fazer é assegurar-se que efectivamente ele é puro e o registo no LOP é a sua única garantia.
De resto, a espécie canina nunca estará em perigo de extinção enquanto existir um cão ou uma cadela fértil no mundo (ao contrário de certas raças que efectivamente estão a desaparecer), portanto mais vale adoptar um dos milhões de cães sem dono do que entregar o seu dinheiro a um criador desonesto na compra de um pseudo-cão de raça.