28/04/2024
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A MOVIMENTAÇÃO, A APRESENTAÇÃO, AS FOTOGRAFIAS E O PASTOR ALEMÃO!
Por Carlos Vianna Neto
Alguns aspectos relacionados ao cão Pastor Alemão, notadamente nos últimos cinquenta anos, sofreram
interferências significativas na condução da raça, refletidas em sua forma de movimentação, no modo de
ser apresentado nas exposições e nas publicações de fotografias.
A movimentação do cão Pastor Alemão, como indicado no standard da raça, deve ser livre, ampla, fluente,
rente ao solo, potente, e resistente, sem demonstrar esforço para desempenhá-la. As corretas proporções,
a boa distribuição do peso e consequente equilíbrio, permitem, através de seus membros, corretamente
angulados, sem exageros ou faltas e a boa firmeza geral de ligamentos, formar o conjunto necessário para o
desenvolvimento de uma movimentação resistente e típica de um trotador como descrita no standard.
Os que acompanharam a evolução da raça no decorrer dos últimos cinquenta anos, percebem claramente
que esta atingiu momentos de muita proximidade ao descrito no standard, de forma marcante nas décadas
80 e 90, quando uma grande quantidade de indivíduos de anatomia e movimentação corretas ocupavam as
posições de destaque nas principais exposições e na reprodução. Foram anos em que invariavelmente eram
encontrados cães que evidenciavam a preocupação por quem conduzia a criação, juízes, dirigentes e
criadores, sem renunciar a uma correta anatomia e movimentação, assim como o caráter e o temperamento.
A ânsia, talvez, nas décadas seguintes, de uma evolução acelerada, a preocupação em tornar cada vez mais
chamativos os aspectos que favoreciam a comercialização, tais como o aumento do tamanho das cabeças,
tórax e angulações que muitas vezes ultrapassaram os limites da tolerância, trouxeram deslocamentos não
condizentes com o típico movimento do cão Pastor Alemão. Ligamentos frágeis e pouco resistentes das
articulações, assim como excessos de tamanho, passaram a oferecer uma falsa ideia de imponência e
potência, que causam impacto à primeira vista, mas que na realidade, por não deixarem de ser bonitos e
atraentes, pecam na funcionalidade e não são como um verdadeiro Pastor Alemão deve ser.
É perfeitamente natural que se queira um cão bonito e vistoso, sem, contudo, perder de vista as
condições estruturais que fazem o Pastor Alemão se distinguir das demais raças. Quais raças são capazes de
trotar como um Pastor Alemão? Esse aspecto é um patrimônio do qual a raça não pode e não deve
prescindir. A atenção aos aspectos estruturais como descrito no standard é de importância crucial para a
preservação da raça como ela deve ser. Gostos pessoais devem ser permitidos na medida dos limites do
standard, para isso há uma grande variedade de estilos e duas variedades de pelagem. Tem-se cores e
tonalidades em quantidade que permite as diversas escolhas, assim como alguns aspectos estruturais. Uns
preferem cães mais encorpados, outros menos. Tudo isso é permitido desde que não sejam ultrapassados
os limites do bom senso e do standard da raça.
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O modo de apresentação nas exposições variou no decorrer dos anos, positivamente em relação às
qualidades que fizeram do Pastor Alemão líder no universo canino, e muitas vezes negativamente, nas
décadas seguintes. Antes, percebeu-se que uma determinada tensão na guia favorecia a fluência do trote, a
plasticidade, oferecia maior tonicidade muscular. Verificava-se na movimentação dos cães a correta
amplitude de suas passadas, o posicionamento e conformação ideal da linha superior, projeção do pescoço,
proporcionando um movimento equilibrado, de correto posicionamento do centro de gravidade, permitindo
assim, o máximo de aproveitamento.
Nas apresentações, era comum os “handlers” perceberem, pelo fluir da movimentação, se o cão
desenvolvia uma boa elasticidade, sem demasiados esforços, ou se necessitava de uma tensão maior. Sua
habilidade determinava a necessidade do momento, ao saber manejar a guia, deixando-a escorrer pela mão
ou travando-a. Havia os chamadores, que costumavam não exagerar nos chamamentos, para que não fizesse
com que os cães puxassem demais. As velocidades dos trotes não eram excessivas. Isto permitia avaliar os
cães em movimento por mais tempo, sem que apresentassem cansaço excessivo e a amplitude, coordenação
e elasticidade correta de seus movimentos.
Nas décadas seguintes, possivelmente no afã de mostrar maior capacidade de desempenho dos cães, a
forma de apresentação se modificou, as apresentações em parado (Stay) tornaram-se muitas vezes
diferentes do desejável, proliferou um modo forçado de colocar os cães para avaliação, não importando se
o cão possuía angulações escassas, corretas, pronunciadas ou exageradas do trem posterior, por exemplo.
O modo de colocar na maioria das vezes passou a ser o mesmo para todos os indivíduos, força-se para
aparentar angulações que não são as do Pastor Alemão, e de nenhuma outra raça de cães. Posicionar os
cães desta forma compromete outras partes, força negativamente a aparência da linha superior, mostra, na
maioria das vezes a região lombar carpeada, quando não é, a garupa mais inclinada do que é na realidade e
sugere um comprimento excessivo da cauda, já que esta passa a repousar no solo uma parte significativa de
sua extensão.
Nas apresentações em movimento, sejam no caminhar ou ao trote, há, tanto um excessivo
tensionamento da guia, como excessos por parte de chamadores que insistentemente querem que os cães
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não parem de olhá-los e segui-los. Este modo de apresentação realça um modo de caminhar e trotar que
difere do movimento característico do Pastor Alemão, quase sempre o mostra tracionando de forma
excessiva, dando a impressão de ser um cão de trenó, tracionador, o que definitivamente não é, e mostra
problemas que muitas vezes não existem, como os passos curtos dos anteriores, o levantar desnecessário
das mãos, e da cabeça, fazendo parecer um cavalo Mangalarga Marchador, desloca o centro de gravidade
para trás, força o direcionamento do movimento mais para cima do que para a frente e nos casos de uma
angulação pronunciada dos posteriores, força uma pisada com os jarretes, comprometendo a direção do
impulso gerado pela força de propulsão, provoca carpeamento e outras compensações que distorcem os
movimentos dos anteriores e a harmonia.
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Uma avaliação, sobretudo nas classes adultas, em trote, sem a guia, permite avaliar com mais precisão os
movimentos e o comportamento geral da estrutura, assim como nos das classes jovens, com a guia frouxa,
sem tensionamentos, como indicado no regulamento de exposições.
As fotografias publicadas, que com frequência, durante muitos anos receberam retoques para leves
correções de possíveis imperfeições, com o advento das tecnologias avançadas, empregadas na manipulação
de imagens, passaram a apresentar verdadeiras aberrações, desde manipulações nas cores, a modificações
na estrutura do exemplar fotografado. Constata-se modificações absurdas em formatos, tamanhos e
volumes de cabeças, com stops excessivamente marcados e lábios caídos, ombros excessivamente
angulados, de posição quase horizontal dos úmeros, coxas alargadas de forma exagerada, tíbias paralelas ao
solo, tórax aumentados, em completa distorção da aparência e em claro prejuízo da imagem real.
Distorções, sejam na estrutura, nas apresentações em exposições ou de manipulações em fotografias,
induzem a interpretações equivocadas sobre a correção da estrutura, a forma correta de apresentação nas
exposições ou a mentalização de modelos produzidos por fotografias nada condizentes com a realidade e o
previsto no standard, em prejuízo da imagem real do cão Pastor Alemão.
As consequências custam caro à raça, à imagem pública desta e a todos que atuam no ambiente da
criação, com queda no n° de registros, de participantes nas exposições e demais atividades que envolvem a
raça.
Não seria o momento de uma reflexão sobre o tema por parte de todos os envolvidos, sejam criadores,
juízes, expositores, treinadores, handlers e dirigentes? Admitir que há excessos? Que talvez se tenha
ultrapassado os limites dos objetivos da criação? Que se deve buscar encontrar um modo de corrigir os
rumos, sem vaidades ou interesses escusos, mas exercitando o verdadeiro comprometimento com a raça?