15/09/2020
ESCLARECIMENTO SOBRE O CASO DO GATINHO EUTANASIADO
Tendo em vista as acusações levianas e criminosas sofridas pela Clínica, resolvemos vir a público prestar esclarecimentos para nossos seguidores e demais interessados sobre o caso do gatinho eutanasiado.
O animal foi resgatado da rua pela tutora responsável e levado à clínica no dia para exames.
Tratava-se de um filhote, de aproximadamente 3-4 meses, que apresentava prolapso retal (O prolapso retal é a inversão da mucosa do reto, através do â**s, para fora, ficando exposta). Além disso, apresentava-se bastante magro e desidratado.
Após entrada na internação e alguns procedimentos realizados, foi realizada a cirurgia para correção do prolapso. Após o procedimento, ao acordar da anestesia, foi observado no momento em que ele fazia esforço para defecar, a presença de hérnia perineal bilateral (a hérnia perineal é o enfraquecimento muscular da região do períneo – região próxima ao â**s, podendo assim ocorrer a migração de vísceras para a região, podendo ocorrer apenas de um lado ou ser bilateral). Assim, foi realizado ultrassonografia abdominal e confirmado o diagnóstico da hérnia. Foi verificado pelo ultrassom que o animal apresentava praticamente ausência total da musculatura dessa região, e não um afrouxamento da musculatura, fato que está provavelmente relacionado a uma má formação.
Durante a internação também foi constatado atonia de bexiga (o animal não conseguia urinar a não ser que fosse realizada compressão manual da bexiga) e também dificuldade para defecar. Através de radiografia, foi constatado fecaloma (fecaloma ocorre quando as fezes estão retidas e ressecadas no interior do colón).
Foi realizada a cirurgia para a correção da hérnia - procedimento cirúrgico complicado devido à inexistência de musculatura na região. Ressalte-se que esta cirurgia foi rejeitada por vários veterinários cirurgiões já que havia grande chance de complicações pós-cirúrgicas e possível recidiva da hérnia e necessidade de nova cirurgia, tendo em vista que se tratava de um animal filhote, em fase de crescimento e que iria acarretar alterações na musculatura daquela região.
Após a cirurgia, a atonia de bexiga persistia e o animal também não conseguia defecar sozinho, sendo necessária realização de vários enemas durante o período da internação (um procedimento que consiste na colocação de uma sonda pelo â**s, no qual é introduzida água ou alguma outra substância com o objetivo de lavar o intestino). Quadro clínico até aquele momento ainda de causa desconhecida, o que seria necessário a realização de outros exames (raio-x da coluna simples ou contrastado, tomografia ou ressonância) para a devida elucidação do quadro.
Além da compressão manual da bexiga várias vezes ao dia, dos enemas realizados frequentemente e administração de analgésicos e anti-inflamatórios para controle da dor, o animal permanecia em posição para urinar/defecar na bandeja sanitária, sem conseguir urinar ou defecar sozinho. Apenas fazendo o esforço, muitas vezes miava de dor, VÁRIAS VEZES AO DIA, inclusive enquanto tentava dormir (este gatinho raramente conseguia relaxar para dormir, dormia sempre sentado a maioria das vezes, possivelmente devido ao incômodo, estresse e dor constante). Ressalte-se que o animal usava o colar elisabetano diariamente.
Alguns dias após a cirurgia para correção da hérnia, mesmo com o uso do colar elisabetano (que era de um tamanho adequado para que ele conseguisse se alimentar e que o impossibilitava de ter acesso aos pontos da região perineal, mas não o impedia de ter acesso ao p***s), o animal se automutilou em questão de minutos, provocando uma grave lesão na região do p***s, provocando a exposição da uretra e uma ferida profunda de aproximadamente 4 cm.
“A Automutilação (autoagressão) é caracterizada por lambedura, mastigação, arranhadura e fricção de uma parte do corpo, pode ser considerada um distúrbio comportamental (PARKER, 1992)”.
Sabemos que a automutilação é um caso grave de estado emocional alterado nos felinos, podendo ser provocado por estresse ou por uma dor muito intensa. Havia uma suspeita de que o animal pudesse apresentar um quadro de compressão de raízes nervosas (congênita ou por trauma) o que poderia estar provocando uma dor insuportável a ponto de levar o animal a se automutilar. A dor neuropática pode ser contínua, porém pode ser intermitente, ou seja, quando ela aparece em forma de crises. E em alguns casos pode provocar formigamento ou sensação de adormecimento de uma determinada região, o que também poderia justificar a automutilação.
Por esse motivo foi informado à tutora do animal, desde quando houve a suspeita de acometimento nervoso, sobre a necessidade da realização de outros exames de imagem.
Após a automutilação, se tornou necessária a fixação de uma sonda uretral, o uso de um colar elisabetano ainda maior, o que o impedia de comer e beber água. E demandou maior urgência na realização de outros exames para elucidar a causa primária do prolapso retal, a cauda da atonia de bexiga, a dificuldade para defecar e ainda do que provocou a automutilação. Enquanto isso, o animal permanecia dormindo sentado, permanecia em posição e fazendo esforço para tentar urinar e defecar inúmeras vezes ao dia (sem sucesso e com sinais de dor e agonia, pois mesmo com a sonda uretral, ele ainda permanecia nesta posição). Fora a necessidade da remoção do colar elisabetano maior, várias vezes ao dia para comer e beber água.
Um novo protocolo para dor foi iniciado e era necessário esperar a cicatrização da ferida ao redor da uretra para realização da cirurgia de uretrostomia, cirurgia indicada quando há dano permanente da uretra.
Ainda não era possível saber o quanto a uretra havia sido lesionada, o que só seria possível avaliar no momento da cirurgia. Existia a possibilidade de ter que ser realizada uma uretrostomia pré-púbica – com a abertura da uretra localizada no abdome, que dependeria do quanto a uretra havia sido acometida e pelo fato dele já ter passado recentemente por uma cirurgia complicada próxima a região do períneo (correção hérnia perineal) provocando outras complicações. (A uretrostomia pré-púbica é indicada na impossibilidade de se realizar a uretrostomia perineal, e possui grandes complicações quando comparada a uretrostomia perineal).
Tendo em vista os gastos que a tutora estava tendo até o momento com o tratamento (que estavam sendo pagos através de doações e na tentativa de ajudar o animal), esta Clínica se disponibilizou a realizar a cirurgia de uretrostomia a baixo custo, sendo cobrados apenas o material utilizado.
Porém, a tutora responsável pelo gatinho, após ter sido avisada que o animal teria que ser anestesiado naquele dia para uma melhor limpeza da lesão (já que ele sentia dor e ficava muito inquieto durante os procedimentos de limpeza) e para a retirada de tecido necrosado ao redor da uretra, decidiu solicitar a eutanásia, que já havia sido indicada e sugerida como possibilidade pela veterinária alguns dias antes. Conforme apurado, a medida era inevitável, tendo em vista todo o sofrimento que o animal estava passando diariamente, e porque não era sabido ainda se a atonia de bexiga (além da dificuldade e agonia para defecar) somadas às outras complicações seriam reversíveis, ou se trariam uma boa qualidade de vida para esse animal.
Além de relatar que não estava mais recebendo doações suficientes e que não poderia mais arcar com o tratamento do gatinho (internação, exames e outros procedimentos), pois seria necessária uma quantia financeira muito maior, a tutora declarou não ter mais possibilidade de assumir tamanho compromisso, apesar de toda quantia já paga até o momento.
O gatinho, durante todos os 22 dias de internação, apenas demonstrou bem estar em UM DIA. Somente neste dia específico foi observado sinais de bem-estar. Apesar de tudo, este animal tinha apetite e ficou sem comer por apenas dois dias, após a automutilação, quando a alimentação teve que ser forçada.
Portanto, somente aqueles que presenciaram o dia-a-dia do animal na Clínica durante esses 22 dias de internação são capazes de fazer um julgamento fidedigno da situação vivida, e saber o quanto este animal estava sofrendo dia e noite. A nossa equipe veterinária acompanhou o caso do animal com todo profissionalismo possível, e somente ela, naquele momento, era capaz de determinar se havia indicação ou não de eutanásia, autorizado expressamente pela tutora do animal, levando em consideração o quadro clínico que ele apresentava.
De acordo com o Manual de Responsabilidade técnica e legislação do Médico Veterinário, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) cita que:
“Art. 3º. A eutanásia pode ser indicada nas situações em que:
- “o bem-estar do animal estiver comprometido de forma irreversível, sendo um meio de eliminar a dor ou o sofrimento dos animais, os quais não podem ser controlados por meio de analgésicos, de sedativos ou de outros tratamentos”;
- “ o tratamento representar custos incompatíveis com a atividade produtiva a que o animal se destina ou com os recursos financeiros do proprietário”.
Em outro documento o CFMV cita que: “Todo médico-veterinário possui formação técnica para realizar o diagnóstico das condições de saúde dos animais e, em casos extremos, de acordo com as resoluções técnicas do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), proceder com o sacrifício humanitário ou com a eutanásia”.
Infelizmente, uma pessoa que se auto intitula como “protetora”, que estava ajudando a arrecadar as doações e que estava acompanhando o caso junto com a tutora responsável, por discordar da medida tomada (sem que tenha qualquer capacidade técnica-profissional para tal), vem injustamente denegrindo a imagem da Clinica nas redes sociais, fazendo acusações caluniosas e difamatórias.
Ressalte-se que esta Clinica, bem como seus profissionais, receberam diversas mensagens com ameaças e intimidações da “protetora”, fatos estes que não serão admitidos e que serão levados à Polícia e ao Poder Judiciário para as devidas averiguações e sanções.
Agradecemos a compreensão de todos e todo o apoio recebido.
Clinica Veterinária Lat&Mia