17/09/2024
Caros colegas criadores, um alerta que achei bom trazer para todos nós refletirmos juntos, especialmente nessa época fundamental de nossa atividade.
Estamos vivenciando, ano após ano, grandes desafios nas nossas criações.
Temos observado as dificuldades de criação em nossos plantéis, com mortalidade de filhotes, de ovos não fecundados, de filhotes que não eclodem ou adultos que morrem sem sintomatologia aparente.
Normalmente, atribuímos essas ocorrências às condições climáticas ou a qualquer outro motivo que esteja fora de nosso alcance resolutivo. Porém, na grande maioria das vezes, falando como grupo, não temos a humildade ou a autocrítica em perceber que a imensa maioria dos acontecimentos negativos poderiam ser evitados ou resolvidos com maior eficiência, pois, em resumo, somos ineficientes e não reconhecemos as nossas incapacidades e limitações. Procuramos desculpas.
Vou dar alguns exemplos de atitudes que percebo que são bastante comuns no nosso meio e as deixo simplesmente como oportunidade de reflexão e autocrítica:
1 – Falta de um plano de controle e prevenção de doenças: apesar de convivermos com patologias inevitáveis, como micoplasmose, coccidiose, viroses, parasitas, raros são os criadores que possuem um protocolo eficiente e rígido de combate e ataque, e que abranja todos os períodos do seu plantel, no ano inteiro.
2 – Falhas graves no manejo alimentar: ao não compreender que não há alimentos e nem suplementos milagrosos, o criador não percebe que aquela economia em valores iniciais em alimentos em determinadas fases da criação irá influenciar negativamente justamente nos períodos de maior necessidade do plantel, pois muitas vezes é justamente no desenvolvimento de futuros reprodutores ou na recuperação dos adultos que as maiores falhas são cometidas. Sabe aquela velha história de dar flocão de milho ou farinhada/extrusada baratinha e depois tascar um ...Vit qualquer pra corrigir meses de reprodutivo preparo errado? Pois é... Alimentação adequada compreende todas as fases da vida de um pássaro, e não somente antes da próxima fase de criação. Discuta com seus fornecedores e assessores quais são as melhores formas de nutrir o seu plantel e não somente alimentar.
3 – Desatenção aos locais de alojamento: não percebendo as necessidades da espécie, há a tentativa de correção de um local mal escolhido ou inadequado para a criação com medidas paliativas, como iluminação artificial ao invés de insolação, com tentativa de melhora do ar em locais úmidos, normalmente terríveis focos de fungos ambientais, por exemplo. Nada substitui uma estrutura simples, mas pensada no bem estar da espécie.
4 – Uso de medicamentos e aditivos sem necessidade ou sem conhecimento, o que é a mesma causa: desconhecimento. O que é bom pra mim, nem sempre (e normalmente) não bom pra você. Não há medicamentos e nem suplementos, aditivos, milagrosos. E quem insiste em agir contrário a esse princípio, pode sofrer os reflexos graves em uma próxima ocorrência ou até mesmo imperceptíveis.
5 – Falta de confiança em profissionais da área: o que mais se escuta é que os criadores não obtiveram resultados com exames laboratoriais e consultas de veterinários, por exemplo, e que, por isso, recorrem à ‘experiência de criadores mais antigos (leia-se indicação de medicamentos). Logicamente nem todas as ações de um profissional são acertadas, mas isso ocorre nos humanos, também. Porém, temos que lembrar que um médico veterinário especializado na área possui um conhecimento incomparável ao de um criador nos aspectos metabólicos, fisiológicos e anatômicos das espécies que criamos. Porém, devemos sempre apoiar o conhecimento e as indicações dos profissionais contratados na nossa própria experiência, na realidade das nossas criações, fazendo com que se complementem.
6 – Falta de reconhecimento de limites claros e de objetivos na criação: muitos criadores fantasiam sobre serem criadores de ponta, que vendam seus pássaros por valores expressivos, porém, nas suas atitudes diárias, não agem como os seus melhores concorrentes agem. Muitos não aceitam que o melhor para a espécie nem sempre é o melhor para o criador. Vejam dois exemplos: um, o uso de rações extrusadas ao invés de sementes com o argumento de que as sementes geram mais sujeira (mesmo que seja pior para a espécie). Dois, o uso de manejo de iluminação e horários inadequados de manejo por necessidades do criador.
Ok, talvez a única hora que o criador possa entrar no criatório seja inadequada às aves, mas ao fazer isso, que ele ao menos tenha a consciência de que não obterá os melhores resultados comparados ao que poderia obter com um manejo que respeite o metabolismo dos animais do seu plantel. Não faz tudo 100%, não exija resultados irreais de 100%.
Esse texto é somente um alerta para a atenção séria que nós diariamente precisamos ter. Não há ocorrências isoladas em nossos criatórios a que não devamos prestar a devida atenção: tudo é sinal indicativo de que as coisas devem ser verificadas. Não há “filhotes que a mãe amassou e morreram”, mas filhotes que a mãe permaneceu no ninho após a mortalidades deles. Não há canários que “estão bem, mas não reproduzem”, mas sim pássaros com alguma ocorrência que os impede de estarem em plana saúde.
Resumindo, nada substitui a ciência e o conhecimento. E nada substitui a nossa atenção focada e crítica.