02/08/2023
Hoje gostaríamos de compartilhar com nossos amigos um texto produzido pelo Sr. Telmo Souza Lima Filho, um dos pioneiros nos estudos do Ovelheiro Gaúcho e que descreveu o Padrão do Ovelheiro Gaúcho junto à CBKC. Foi publicado no Jornal do Kennel Clube Rio Grande do Sul. Segue a transcrição da íntegra do texto:
>O Ovelheiro Gaúcho é uma raça de cães originários do Rio Grande do Sul, ou melhor, foi neste Estado que iniciou o estudo e formação de um padrão genético, definindo assim suas características e o seu fenótipo.<
"Ovelheiro Gaúcho, sempre se fez presente em companhia do peão na lida com gado, ovelhas e cavalos. A origem do Ovelheiro Gaúcho, muito discutida, mas baseada em alguns fatos históricos, podemos chegar, ou melhor, nos aproximar deste padrão. O cão sempre foi o grande companheiro do homem, desde os primórdios, desempenhando sempre um grande papel, como guarda (proteção), até mesmo em rituais religiosos e grande companheiro nas atividades do homem, tanto nas caçadas para o seu sustento e da família e também no campo com o trabalho com o gado, ovelhas e cavalos.
O homem sempre se fez acompanhar de um cão. Acredita-se que estes cães tenham vindo acompanhando uma remessa de cavalos, originados de Portugal e Espanha em 1512 e que naufragou na metade sul do RS, mais precisamente em Rio Grande e Pelotas. Esta hipótese é baseada em que o cão sempre foi o grande companheiro na lida do campo. Outro fato muito interessante é o comentário do historiador August de Saint-Hilaire no livro Viagem ao Rio Grande do Sul, onde ele descreve um cão diretamente ligado ao trabalho de ovelhas, o que chamou sua atenção e curiosidade.
No município de Rio Grande, foi informado que este cão terminava seu período de desmame em uma ovelha e passava a viver dentro do rebanho, reconhecendo-se como membro do mesmo e desempenhando o papel de protetor, descendo na parte da manhã e no fim da tarde para o galpão em busca de alimento. Esta visita foi em 1820. Estas datas são bastante importantes para se ter uma ideia de sua presença no Estado. Em 1784 houve por parte de espanhóis e portugueses motivados por demarcação de fronteira, uma grande procura de sesmarias e estâncias, iniciando assim a criação de gado e ovelhas, e com eles vieram cães de trabalho e companhia. Em 1860, Hemérito José Velloso da Silveira, em seu livro as Missões Orientais e Seus Antigos Domínios, narra a presença de cães Ovelheiros em seu trabalho em cima da serra na guarda de rebanho. O cão sempre esteve ligado em toda a atividade do campo e seu fenótipo foi adaptado naturalmente às situações climáticas, a proteção e defesa. O cão doméstico origina-se do cão selvagem e suas características dependem da região e finalidade, e aí inicia a participação do homem na fixação de tipos, padrões e características. Existem algumas teorias, de que o Ovelheiro seja produto do cruzamento do Collie com o Border Collie.
O Border Collie ingressou no Rio Grande do Sul em 1950 junto à uma importação de ovelhas da raça Merino com destino à Uruguaiana e alguns exemplares foram para o distrito de Pelotas. Nesta época os Ovelheiros Gaúcho já estavam em plena atividade. Logo, não existe lógica alguma nessa teoria genética.
Quanto a raça collie, a história é bem parecida, era um cão oriundo dos campos escoceses e que na sua formação fizeram parte as raças: Terra Nova, Golden Seter e Deerhound, o Terrier escocês, e seguramente o Greygaund. Este principalmente com grande influência na formação da cabeça.
A apresentações de cães em exposição iniciou em 1860, sendo ainda apresentado com a denominação de Scotch Sheep Dog na sociedade de Birmânia. No Brasil seu ingresso intensificou mais a partir do final da Segunda Guerra Mundial, vindo os primeiros da Inglaterra e em seguida os EUA, importação realizada por criadores do Rio de Janeiro. Eram inicialmente totalmente pretos com manchas brancas ou marrons, mas a preferência era dos totalmente negros. O ingresso do Collie na genética do Ovelheiro teve início à partir da década de 40, quando a raça já estava criada, logo também não teve a mínima influência na formação do Ovelheiro Gaúcho.
O Ovelheiro Gaúcho possui como características, ser extremamente ligado à família e ao trabalho no campo, desempenhando suas atividades quase que autônoma e extremamente tranquila. A partir da década de 20 com o ingresso do Pastor Alemão como cão de guarda e proteção nas fazendas, houve alguns cruzamentos com o Ovelheiro Gaúcho e o resultado desses cruzamentos foram animais de orelhas eretas, o que até esse momento não existia. Eram semi caídas ou em botão. Geraram cães latidores em seus trabalhos e beliscadores de garrão, o que para lidar com o gado foi ótimo, mas para o manejo de alguns rebanhos de ovinos tornou-se estressante.
O Ovelheiro Gaúcho teve e tem seu desenvolvimento no sul do país, no Uruguai e fronteira com a Argentina, sendo que nos campos centrais do país (São Paulo, Minas Gerais, etc) temos um outro genótipo e fenótipo diferenciado, que é o Pastor da Mantiqueira.
Existem em outros países, fenótipos semelhantes ao do Ovelheiro Gaúcho, devido a seleção de cães para cumprirem a mesma finalidade, levando em consideração clima e maneiras de trabalho. Temos como exemplo o Pastor Americano, o Pastor Chileno... São bem semelhantes, mas provavelmente de genótipos diferenciados."
Telmo Souza Lima Filho
Canil Black Money
Colaborador do padrão Oficial da Raça - CBKC