27/06/2025
Meu pai cria abelhas. Hoje fui visitá-lo, e com o orgulho tranquilo de quem respeita a natureza, ele me mostrou o fruto mais doce de seu ofício: um balde de 5 galões repleto de mel recém-colhido. Quando tirou a tampa, vimos três pequenas abelhas se debatendo no topo do mel dourado. Estavam cobertas do líquido espesso, afogando-se lentamente. Perguntei se poderíamos ajudá-las. Ele suspirou, dizendo que provavelmente não sobreviveriam — ap***s perdas inevitáveis na colheita.
Mas insisti. Lembrei-o que foi ele quem me ensinou a não deixar um animal sofrer. Após um momento de silêncio, ele cedeu. Com delicadeza, resgatou as abelhas e as colocou num potinho vazio de iogurte Chobani. Depois, deixou-o do lado de fora, no banco, à mercê do destino.
O dia estava cheio de zumbidos; a colmeia ainda alvoroçada pela colheita. E então, algo extraordinário aconteceu. As três abelhas, imóveis e envoltas em mel, começaram a ser visitadas por dezenas de outras — suas irmãs. Sem hesitar, começaram a limpá-las, com uma delicadeza instintiva e uma urgência quase humana. Elas não fugiram do mel. Elas mergulharam nele para salvar suas companheiras. Uma a uma, passaram a língua e as patas por cada asa colada, cada antena colapsada.
Voltamos um tempo depois: restava ap***s uma abelha no potinho. As outras já tinham recuperado as forças e voado. E mesmo assim, aquela última não ficou sozinha. Ainda havia abelhas cuidando dela, pacientes, persistentes.
Na hora de ir embora, conferimos uma última vez. O recipiente estava vazio. Todas tinham partido.
Aquelas três abelhas sobreviveram não por sorte, mas porque estavam cercadas de solidariedade. Porque suas irmãs se recusaram a abandoná-las, mesmo quando tudo parecia perdido. Porque, às vezes, a salvação não está na força individual — mas no amor silencioso de quem limpa nossas asas quando mal conseguimos respirar.
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