14/02/2017
Ab**to em Éguas!! 🐴🐎🦄
**toemÉguas!
A ocorrência de ab**tos em éguas signif**a uma perda econômica para os criadores e demonstra, por muitas vezes, que há erros no manejo sanitário dos animais. O abortamento refere-se à perda de prenhez após a conclusão da organogênese, que ocorre por volta de 55 dias de gestação (TROEDSSON, 2003). Numerosos fatores etiológicos são responsáveis e podem ser divididos em dois grupos: Infecciosos e não infecciosos. Entretanto, em alguns casos, pode-se encontrar a confluência desses fatores no mesmo feto (MOREIRA, 1998).
Causas Não infecciosas
De acordo com Thomassian (1996), as causas não infecciosas de ab**to são diversas, tais como distúrbios hormonais, anomalias de cordão umbilical, conformação anormal do potro, gestação gemelar, má-conformação vulvar, traumatismos externos, problemas nutricionais, desequilíbrios metabólicos e problemas ambientais. São também desencadeadores de ab**tos não infecciosos, medicamentos que provocam contrações de musculatura lisa; droga anti-inflamatória corticosteroide ou antiprostaglandínicos utilizados no terço final da gestação; vermífugos administrados em animais enfraquecidos no terço inicial e final da gestação; alimentos tóxicos ou deteriorados; predisposição hereditária; e enfermidades que produzem toxemias e alterações circulatórias graves.
Segundo Acland (1996), dentre os ab**tos de origem não infecciosa, a causa mais comum é a prenhez gemelar. A evolução da prenhez gemelar depende do local da fixação das vesículas embrionárias, o que ocorre por volta do 16º dia após a ovulação. Quando as vesículas se fixam de maneira bilateral, os embriões geralmente continuam a se desenvolver normalmente após 40 dias de gestação. Se a fixação das vesículas se dá no mesmo c***o, cerca de 80% das vezes verif**a-se a redução de uma das vesículas até o 40º dia de gestação. O ab**to ocorre em qualquer fase, mas é mais comum após o sétimo mês. Nos casos em que a gestação vai a termo, tem-se o nascimento de potros pequenos e na maioria das vezes inviáveis.
Causas Infecciosas
Os ab**tos infecciosos constituem cerca de 10 a 20% de todos os ab**tos dos equinos e podem ser causados por bactérias, vírus e fungos. Muitos dos ab**tos infecciosos podem ser causados por enfermidades sistêmicas não específ**as (TROEDSSON, 2003). Conforme Thomassian (2003), as bactérias que mais comumente produzem ab**to são: Streptococcus spp, Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Proteus vulgaris, Micrococcus spp, Pseudomonas aeruginosa, Brucella abortus, Salmonella abortusequi, Klebsiella spp e Leptospira sp. Os virus causadores de ab**to são os da Rinopneumonite Viral Equina e da Arterite Viral Equina. Os principais fungos são Aspergyllus sp, Mucor sp e Allescheria boydii.
De acordo com Smith (2006), abortamentos bacterianos e fúngicos são normalmente causados por infecções ascendentes, iniciadas após montas naturais e por dilatação da cérvix durante o estro. Essas bactérias causam consequente retenção de placenta, metrite e infecção fetal.
A placentite é considerada a principal causa infecciosa não contagiosa e se dá de forma ascendente através da cérvix. Os principais patógenos envolvidos são Aspergillus spp., Streptococcus spp., Staphylococcus spp., Escherichia coli, Pseudomonas sp. e Klebsiella sp (LEBLANC, 2003). Geralmente, o ab**to devido à placentite é precedido por sinais clínicos que evidenciam um ab**to eminente. Observa-se o aumento do úbere com extravasamento de leite e descarga vaginal. Na ultrassonografia transretal observa-se um aumento na espessura da placenta, sendo que em algumas situações é possível evidenciar a separação do alantocório do endométrio. Segundo Troedsson (2003), o feto costuma não apresentar alterações singulares, geralmente observa-se o aumento de líquido abdominal e torácico, e hepatomegalia. A principal alteração macroscópica estaria na placenta, geralmente a área mais afetada estaria nas proximidades da cérvix onde a placenta apresenta uma coloração entre amarelo e marrom, com edema e eventual presença de muco. O agente etiológico poderá ser isolado da placenta ou de diversos órgãos do feto, principalmente do estômago.
O Herpesvírus equino tipo 1 (EHV-1) é descrito pela literatura como sendo a mais importante causa única de ab**to de origem infecciosa (ACLAND, 1993). O agente infeccioso é o causador da Rinopneumonite Viral Equina e o ab**to ocorre após o sétimo mês de gestação. A fonte de infecção do EHV-1 mais comum são os animais mais velhos, os quais liberam vírus após reativação de infecções latentes. O vírus penetra normalmente pela via respiratória em animais suscetíveis. Os ab**tos podem ocorrer a partir do quarto mês de gestação, no entanto, são mais frequentes nos últimos 4 meses de gestação. O ab**to normalmente ocorre após infecção respiratória leve, como casos isolados ou múltiplos, muitas vezes, em um período de várias semanas. Normalmente, as éguas que abortam não apresentam sinais premonitórios. O feto e a placenta são expulsos ainda frescos, não havendo retenção de placenta nem lesão no trato reprodutivo da fêmea e, tampouco, problemas para a vida reprodutiva futura da égua (RIET-CORREA, 2007).
Dentre as causas bacterianas, segundo Bernard (1993) e Pescador et. al. (2004), a Leptospirose é uma doença caracterizada como importante causadora de abortamento em equinos. A infecção pode ocorrer sem que os animais apresentem qualquer sintoma, somente o abortamento. Muitos cavalos tornam-se portadores sadios e podem contaminar outros animais da tropa, principalmente pela eliminação da bactéria através da urina, que pode permanecer no ambiente durante alguns anos. O ab**to por leptospirose ocorre após o sexto mês de gestação e partos prematuros e natimortos são frequentes. As éguas afetadas podem apresentar sinais sistêmicos por 3 ou 4 dias, como ligeira depressão, hipertermia, anorexia, leve icterícia. O ab**to ocorre semanas após a infecção. Fetos abortados apresentam icterícia e alguma autólise.
Além de causar abortamentos, a leptospirose é uma zoonose de grande importância social e econômica, por apresentar elevada incidência em determinadas áreas, custo hospitalar elevado, e alta taxa de letalidade em humanos, que pode chegar a 40%, nos casos mais graves (BRASIL, 2010).
Diagnóstico
Como já visto, a interrupção da gestação poderá se dar por doenças ou falhas envolvendo a placenta, a mãe ou o feto, individual ou simultaneamente. Na tentativa de se obter o diagnóstico, é necessário colher informações da égua, da placenta e do feto. Inicialmente, deve-se formular uma anamnese detalhada, incluindo histórico reprodutivo da égua, manejo vacinal do rebanho, trânsito de animais, ocorrência de doenças, potenciais causas de stress materno, possível acesso a toxinas e manejo nutricional. O feto e a placenta deverão ser examinados minuciosamente pelo médico veterinário. O segundo passo seria realizar exame clínico detalhado da égua com atenção especial ao aparelho reprodutivo, o que envolve palpação e ultrassonografia. Realizar uma sorologia pareada, com coleta de sangue com intervalo de 2 semanas pode demonstrar se houve contato recente com um agente causador de ab**to (RIET-CORREA, 2007).
Profilaxia
De modo geral, para se reduzir os riscos e os casos de ab**to, o manejo sanitário dos animais voltados para a reprodução deve seguir algumas orientações importantes, tais como fazer um exame clínico e ginecológico/andrológico da égua e do garanhão; corrigir as malformações vulvares, a fim de evitar a formação de pneumovagina; adorar medidas de higiene durante as coberturas e partos; proporcionar uma gestação tranquila e assistida; e sempre isolar as éguas que abortaram e desinfectar as instalações (THOMASSIAN, 1996).
Em relação a algumas causas infecciosas, como o Herpesvírus tipo I e a Leptospirose, a vacinação é uma estratégia de prevenção relativamente simples e bastante ef**az.
Para prevenir o EHV-1, deve-se vacinar as éguas no quinto, sétimo e nono mês de gestação. Diante de um desafio intenso algumas éguas vacinadas poderão abortar, mas dificilmente será observado um surto na propriedade.
A vacinação contra a leptospirose deve ser feita com a aplicação de duas doses, no intervalo de 30 dias, e reforço semestral. Além do controle de roedores, animais silvestres e evitar o acesso dos cavalos a locais alagados ou úmidos, que dão condições de sobrevivência ao agente no meio ambiente (PESCADOR, 2004).
Quando da ocorrência do ab**to, os restos placentários e o feto deverão ser eliminados. Recomenda-se que as demais éguas sejam retiradas do piquete para diminuir as chances das mesmas entrarem em contato com o local onde o feto e os restos placentários foram eliminados.
Autor: Vitória Yuki Endo, 9º período, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.
Edição e Revisão: Deivisson Ferreira Aguiar, Médico Veterinário
Fonte: Informativo Equestre
Referências
ACLAND, H.M. Abortion in Mares. In: MCKINNON, A.O.; VOSS, J.L. Equine Reproduction. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993, p.554-62.
BRASIL – MINISTÉRIO DA SAÚDE – Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) – Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica. Caderno 8. 7a ed. Brasília, p. 494 – 511, 2010.
BERNARD, W.V. Leptospirosis. Vet. Clin. North Am. Equine Pract. 9, 1993.
BRINSKO, P. S.; BLANCHARD, T. L.; VARNER, D. V.; SCHUMACHER, J.; LOVE, C. C.; HINRICHS, K.; HARTMAN, D. Manual of Equine Reproduction. Mosby Elsevier, 3a ed., 2011.
LEBLANC, M.M.; LESTER, G. Ascending Placentitis in the mare: What we learned from an experimental model. Abstract Book, 8th Congress of the World Equine Veterinary Association. 2003, p.22.
MOREIRA, N.; KRÜGER, E. et al. Aspectos etiológicos e epidemiológicos do ab**to Eqüino. Arch. Vet. Scienc.v.3, n.1, p. 25-30, 1998.
PESCADOR, C. A. et al. Ab**to Equino por Leptospira sp. Ciência Rural, Santa Maria, v.34, n.1, p. 271-274, 2004
RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A; BORGES, J.R. Doenças de Ruminantes e Equídeos. Vol.2. 3ª ed. Pallotti, Santa Maria. 2007.
SMITH, B. P. Medicina Interna de Grandes Animais. 3a ed. Barueri: Manole, 2006.
THOMASSIAN, A. Enfermidades dos cavalos. São Paulo. Ed. Varela. 1996.
TROEDSSON, M.H.T. Placentitis. In: ROBINSON, N.E. Current Therapy in Equine Medicine 5, Philadelphia: Saunders, 2003.