27/01/2021
RAÇA DOGO ARGENTINO
Considerações sobre a cor da pelagem – Interpretando o padrão
Recentemente meu querido amigo Luiz Fernando Freire Webster, vice-presidente do Kennel Clube do Rio Grande do Sul, grande criador da raça Dogo Argentino, comentou e junto discutimos sobre a pelagem da raça, especificamente sobre a cor e presença de “lunares” (pequenos pontos) “desbotados” ao longo do corpo de alguns animais.
O assunto me chamou atenção e me levou a buscar algumas conclusões.
Desde logo, cumpre buscar a origem da raça.
Seu histórico reporta a alguns cruzamentos, inicialmente com cães das raças Bulldog e Bull Terrier. Posteriormente, frente a seleção que se buscava, foi cruzado com o Bulldog Inglês, Dogue Alemão, Mastim dos Pirineus, Bull Terrier, Boxer, Pointer, Dogue de Bordeaux e Wolfhound Irlandês.
No ano de 1964 o Dogo Argentino é reconhecido como raça pela Federação Cinológica Argentina e pela Sociedade Rural Argentina, as quais abrem seu “Registro Genealógico”, iniciando sua inscrição.
Somente no ano de 1973, a raça é aceita pela FCI (Federação Cinológica Internacional), ou seja, a raça é por demais jovem, contando com apenas 44 anos.
Se retroagirmos no tempo e vislumbrarmos as raças utilizadas na formação do Dogo Argentino, encontraremos muitos cães que na sua composição de cores está o preto, como Dogue Alemão (principalmente arlequim e pretos) e o Pointer. Além disso, na composição da raça, encontramos também cães que tem pequenas manchas “desbotadas”, como o Bulldog Inglês e o Bull Terrier.
Ainda hoje se observam Bull Terriers “pintados” de branco para “esconder” aquelas machas cinza claro ou “desbotadas”.
Fazendo uma releitura das raças que compuseram o Dogo Argentino, vislumbra-se, no meu entendimento, os motivos pelo qual encontra-se na raça as pequenos pontos desbotados pelo seu corpo, que os criadores definem como “lunares”.
Com efeito, muitas das raças acima citadas, usadas na formação do Dogo Argentino, trazem “manchas” na pelagem e, por consequência, aparecem também em muitos exemplares da raça Dogo Argentino pequenos pontos escuros, que por ser uma raça ainda considerada recente, certamente, por muitos anos ainda trará em seu plantel, a maioria dos cães com “lunares” em sua pelagem.
O padrão admite pequena mancha preta ou de tonalidade escura no crânio, que não exceda a 10% do tamanho da cabeça.
É de questionar-se: Que cor normalmente tem essa mancha na cabeça? Já julguei muitos cães da raça e sempre observo que a mancha é da cor preta. Em raros casos observei um pouco de tigrado e também marrom.
Cabe outro questionamento: Alguém já viu “lunares” no crânio ou conjunto da cabeça do Dogo Argentino? E mais, se existente, excederiam a 10% do tamanho da cabeça? Não! O que se observa é mancha preta ou, raramente, de outra cor escura.
Ora, se somente é admitida macha de cor preta ou escura e, tão somente na cabeça e, essa não se refere a “lunares”, é evidente que, apesar de ser a cor branca predominante para a raça, o que não é aceitável é conter manchas escuras sobre o corpo, não sendo os lunares uma falta, até porque não se tratam de manchas e sim pontos escuros existentes no curto subpelo do cão.
Todos os padrões de raças caninas geram margem à interpretações. No caso específico da raça Dogo Argentino, há que interpretar-se os lunares como algo indesejável, mas nunca como uma falta desqualificante. Ou seja, no meu entendimento, na comparação de dois exemplares, se um deles conter lunares, este deve vencer sobre um totalmente branco, que não seja tão típico.
Como criador de cães há 27 anos, sobretudo da raça akita, observei alguns problemas em acasalamentos sucessivos de cães brancos X cães brancos e mesmo alguns vermelhos que tinham muitos ancestrais brancos em seus pedigrees.
Alguns resultados negativos desses acasalamentos, foram o aparecimento de trufa clara, olhos claros, cães mais leves, despigmentações nas mucosas e manchas na pelagem.
Observem que mesmo em acasalamentos de akitas brancos com bancos, ocorreram manchas na pelagem e passaram a surgir outros “defeitos”, não recomendados para a raça.
Como antes referido, minhas considerações aqui não passam de opiniões, até porque não sou criador da raça, mas me atrevo a dizer que os “lunares” não são assim um defeito como alguns fazem crer.
Na minha opinião, que me desculpem os criadores, penso que, ao contrário de ser um mal para a raça, os lunares são benéficos.
Me atrevo a dizer que suponho que cães com lunares poderão gerar filhos com maior pigmentação nos locais onde realmente devem prevalecer.
Me arrisco ainda, a referir que cães totalmente brancos, podem gerar descendentes com despigmentação na trufa, lábio, contorno dos olhos, olhos claros, problemas de visão e audição.
Como árbitro, tenho observado o decrescente número de cães da raça Dogo Argentino em pista. E mais, desculpem os criadores, a também decrescente qualidade.
Muitos exemplares que tenho visto, estão com cabeças muito leves, cana nasal multo longa, lábios muito pendentes, pouco arqueamento de costelas, ossatura leve e pouco robustos para o fim que se destina a raça.
Desta sorte, antes de discutir um mero detalhe atribuído aos lunares, penso que os criadores devem preocupar-se mais com a tipicidade da raça, problemas de saúde e sua estrutura.
Ademais, há que se referir que, frente ao entendimento de alguns, cães com a presença de lunares deveriam ser desqualificados, por não terem a tipicidade definida pra a raça.
Temos que ter presente que a desqualificação resulta na cassação do pedigree do cão.
Penso que compete ao árbitro no momento do julgamento levar em consideração os pontos acinzentados no sub pelo e atribuir a falta que assim entender, porém não desqualificar o cão. Esse é meu entendimento!
Com certeza, a presença de lunares não significa falta de tipicidade e consequentemente não prospera o entendimento de desqualificação. O cão tem que ser apreciado pelas suas virtudes e não ser buscado nele supostos defeitos, que na verdade são meros detalhes que desagradam, mas não retira dele os atributos ditados pelo standart da raça.
Certamente, e assim interpreto o padrão, que a ocorrência de pequenos pontos (lunares), desde que não sejam pretas ou outras cores escuras não são consideradas faltas desqualificantes.
Concluindo, interpreto e reitero que o padrão, ao referir como falta desqualificatória “manchas no corpo”, o faz para referir que são manchas escuras, que, por analogia, seriam aquelas referidas e admitidas na cabeça, guardada a proporção estipulada no padrão da raça.
Uma raça jovem (apenas 45 anos de reconhecimento) merece maior atenção dos criadores em outros tantos quesitos, que vão além desse pequeno detalhe chamado “lunares”.
É evidente que, como árbitros, temos que ter humildade e aprender com os criadores. Por isso, recebam minha manifestação como uma opinião, um entendimento pessoal, que talvez não reflita na concepção de alguns criadores, o que respeitamos e nos curvamos como interessados em aprender.
Um abraço a todos!
Pedro Armando Ramos Lang
Criador de Akita, Bullmastiff, Terrier Brasileiro
Árbitro all rounder
Presidente do Kennel Clube do Rio Grande do Sul