04/11/2022
Esse texto é um resumo de meu trabalho referente aos cães collys.
Colly, o cão do Tropeiro.
Por Paolo Pellecchia.
Com o início da conformação, muitas coisas aconteceram, e devido a livro aberto, muitos se aproveitaram para introduzir cães que não eram os esperados, e, pensando apenas na aparência, muito se foi falado no final do século XIX e início do século XX sobre temperamentos estarem sendo reduzidos. Hoje, até juízes de exposições falam sobre o assunto, sendo ignorados por alguns criadores.
Cães desenvolvidos exclusivamente para auxílio do homem no campo foram reduzidos a enfeites da sala de estar devido sua aparência, e com mentiras, falcatruas e histórias mirabolantes, levaram alguns cães a patamares que nunca existiram.
O collie, originalmente chamado de colly (lê-se coally), foi uma das raças que mais sofreu com isso, sendo uma das primeiras a entrar nesse círculo vicioso.
Seu nome original foi trocado para “Cur” por Bewick (SRD, vira-lata), e futuramente, “Drover dog” por Sydenham (cão do Tropeiro, pecuarista), enquanto donos dos cães em Northumbria os chamavam de “Collys”, e sim, Northumbria, não norte da Escócia.
O que vos falo está nítido nos registros, mas, talvez, pelo simples fato de aceitar uma bela história, o que clubes e a Linda falam está tudo bem e não precisa ser questionado.
Em 1790, o primeiro registro oficial foi feito do cão “Cur”. Usam apenas uma edição do livro de Bewick, “A General History of Quadrupeds”, para falar dos cães pastores, sendo que, o mesmo chegou a refazer o livro por várias vezes, corrigindo seus próprios erros de análises em todas espécies que registrou. Por exemplo, ele corrigiu sobre os cães Cur nascerem com cauda curta em 1794, afirmando que eram cortadas, e, em 1824, corrigiu a nomenclatura, dizendo que o povo da região os chamavam de “coallys”. Em 1800, Sydenham, como um grande amante de cães e inconformado com as descrições rasas que foram feitas sobre os cães das ilhas britânicas até o momento, apresenta o mesmo cão com nome “Drover” em seu livro "Cynographia Britannica" porém, com desenho mais detalhado e dá detalhes comportamentais específicos, como, defender o rebanho de predadores e humanos, e a caça furtiva. Nenhum deles fala sobre o cão ser do norte da Escócia, e sim que era um cão do norte da Inglaterra e sul da Escócia, pertencente principalmente a região de Peninos e Newcastle, conhecidas localmente também como 𝐍𝐨𝐫𝐭𝐡𝐰𝐞𝐬𝐭 𝐇𝐢𝐠𝐡𝐥𝐚𝐧𝐝𝐬.
Este cão era uma variação do cão pastor, cruzado com greyhound e mastim, um cão de necessidade local para o criador de bovinos, que precisava de proteção para o rebanho sem a supervisão de um humano e que guiasse os animais, principalmente para o abate, e, eventualmente, caça furtiva. De pelagem áspera curta ou longa (que hoje, poderíamos chamar de média), foram bem representados, e nada se falava de um cão específico ao norte da Escócia, ao longo das terras britânicas eram apenas o cão pastor e o cão drover, que foi destacado existir apenas naquela região, e que já estavam bem fixados em aspectos morfológicos. O cão drover, se tinha três variações locais, como por exemplo em Newcastle se tinha uma variação de drover maior que as demais e a pelagem era a gosto do dono, onde uns preferiam ela longa por causa da proteção contra intempéries.
Em 1840, William fez um livro "The Dogs", que é um dos mais conhecidos do mundo, e ele foi o primeiro a dividir variações locais ao longo da Grã-Bretanha em raças específicas. Ele fala bem rápido do cão Cur, sem dizer sobre o nome local, e apresenta o tal do pastor escocês, dizendo que este era o cão colly.
O pastor escocês tinha a mesma função do seu primo pastor inglês (border collie) tendo uma similaridade em pelagem, densa e com alguns mais lisos e sedosos e outros mais ásperos, e no comportamento, porém, o escocês em uma forma de trabalho mais delicada e menos sistemática, enquanto o cão Cur (ou Drover) tinha uma função e aspecto morfológico completamente diferente dos dois, como sempre é destacado, a capacidade de "garronar" os bois sem se ferir. O maior problema está no focinho, onde na descrição quase sempre se é colocado Fine/slim/thim, querendo diferenciar dos cães molossos, mas trocando no contexto o fino por afiado no drovers (Sharp), mesma descrição e desenho da cabeça encontrado nos greyhounds.
De lá pra cá, apenas se teve um copia e cola, com poucos naturalistas e veterinários realmente admirando e visualizando as raças pessoalmente. A ideia de William se perpetua até o início da conformação, onde, a princípio, não era pra existir má índole, e foi realmente apresentado o Pastor escocês nas exposições.
A grande questão é que, para participar das exposições, muitos levaram seus cães drover com gene recessivo (ou seja, pelagem longa), e isso só é desmascarado em 1896, por George Armatage em seu livro “The Dogs: Its Varieties and management in Heath”, que foi simplesmente ignorado por quase todos. Ele foi um dos primeiros a falar sobre os cães de pelagem curta e longa serem os mesmos, e sobre a introdução dos cães do norte da Inglaterra na conformação como pastores escoceses, e mostrando que nos cães de pelagem curta eventualmente se nascia um cão de pelagem longa, justamente por ser gene recessivo (do qual ele não sabia, porém hoje sabemos devido aos estudos genéticos).
Ainda hoje, há cães que sofrem atavismo e nascem com os traços dos cães Cur, tanto em temperamento como em morfologia, e são descartados da seleção por serem fora do padrão. Hora, colocados erroneamente como cães agressivos por exercerem defesa territorial, ou, por que a pelagem é curta demais comparado aos cães modernos. A cabeça é nitidamente mais larga, além de serem maiores na cernelha e mais largos e profundos no tórax.
Eram duas raças, onde se tornou uma, e que deveria ser conversado sobre a separação.
Atualmente, com os "modern type", vem sido apresentado um cão diferente, com stop mais profundo, e que poderia ser a correção para esse problema que veio lá de traz, mesmo que ocorrendo uma diferença entre os pastores escoceses de trabalho e os de exposição.
Futuramente falarei sobre o mito da rainha Victoria, que nunca chegou a ter rough collies e é colocada como “entusiasta da raça”.