22/03/2021
ORAÇÃO DO CAVALO
"Dono Meu:
Dá-me frequentemente de comer e de beber, e quando tenhas terminado de trabalhar-me, dá-me uma cama onde eu possa descansar comodamente.
- Examina todos os dias os meus cascos e limpa meu pêlo.
- Quando eu recusar a forragem, examina meus dentes e minha boca, porque bem pode ser que eu tenha uma travagem que me impeça de comer.
- Fala-me, tua voz é sempre mais eficaz e mais convincente para mim, que o chicote, que as rédeas e que as esporas.
- Acaricia-me frequentemente, para que eu possa compreender-te, querer-te e servir-te da melhor maneira e de acordo com os teus desejos.
- Não cortes o meu rabo muito curto, privando-me do melhor meio que tenho para espantar moscas e insetos.
- Não me batas violentamente e nem dê golpes violentos nas rédeas; se não obedeço, como queres, é porque ou não te compreendo, ou porque estou mal encilhado, com o freio mal colocado, com alguma coisa nos meus pés, no lombo, que me causa dor.
- Se me assustar, não deves bater-me, sem saber a causa disso, pois bem pode ser um defeito de minha visão ou um providencial aviso pra ti.
- Não me obrigues a andar muito depressa em subida, descida, estradas empedradas ou escorregadias.
- Não permaneças montado sem necessidade, pois prefiro marchar do que ficar parado com uma sobrecarga sobre o dorso.
- Quando cair, tenhas paciência comigo e ajude-me a levantar, pois faço quanto posso para não cair e não causar-te desgosto algum.
- Se tropeçar, não deves por a culpa em cima de mim, aumentando minha dor e a impressão de perigo com tuas chocotadas, isso só servirá para aumentar meu medo e minha má vontade.
- Procura defender-me da tortura do freio, não no trabalho, mas quando esteja em descanso, e cobre-me com a manta ou com uma capa apropriada.
- Enfim, meu dono, quando a velhice me tornar inútil, não esqueças o serviço que eu prestei, obrigando-me a morrer de dor e privações sob o jugo de um dono cruel ou nos varais de uma carroça, se não puderes manter-me, ou mandar-me para o campo, mata-me com tuas próprias mãos sem me fazeres sofrer"
Autor desconhecido