A Fazenda Santa Terezinha, localizada no distrito do Passo da Adão em Rio Pardo-RS, foi adquirida pelo patriarca da família Paz, o pecuarista Batory Oliveira Paz, no ano de 1969. E desde o início, até hoje, sempre trabalhou com produção de gado de corte.
Durante essas mais de cinco décadas podemos dizer que aqui se vivenciou praticamente tudo oque faz parte do cotidiano tradicional das lidas gaúchas. Desde domar de cavalos, carnear bois e fazer grandes marcações de terneiros, até melar abelhas, criar porcos, colher ovos, lavar roupa no açude, passando por pescarias, ordenhas de leite e por último as modernas lavouras de soja e as inseminações artificiais para vacas de cria.
Dentro desse contexto, devido à necessidade de auxilio na pecuária, sobretudo no manejo com bovinos e ovinos, os cães da raça Ovelheiro Gaúcho tornaram-se importantes ferramentas de trabalho nas lidas de campo e mangueira. E por um longo tempo eles passaram por uma seleção, de certa forma amadora, sem muito planejamento, sendo um tanto natural por rusticidade e um tanto artificial para esse trabalho de tropeadas. Este fator acabou forjando o início de tudo.
A partir de meados dos anos 90, o quarto filho de Batory, Marco Antônio Andrade Paz, deu início ao ainda “embrionário” processo seletivo mais aprimorado, por assim dizer. Na época, com exclusivo foco em desempenho funcional para os trabalhos com rebanhos.
No ano de 2000, um marco revolucionante no que diz respeito aos cães da fazenda. Foram trazidos três ovelheiros da Estância Monjolo Velho, do município de Butiá-RS, regalo do proprietário José Fidelis Ramos Coelho, pela nossa compra de seis touros da raça Santa Gertrudis. Dentre esses três ovelheiros estava um macho preto, batizado de “Bug”, devido ao Bug do milênio (evento que supostamente afetou os computadores na virada de 1999 para 2000). Exemplar esse que se destacou não somente pela inteligência, docilidade e excelente desempenho de trabalho, mas principalmente pela sua produção com as fêmeas que já existiam na Fazenda Santa Terezinha. Esta característica garantiu uma base genética sólida, com filhos bonitos e muito funcionais.
Em 2003 começaram a aparecer os primeiros produtos dessa seleção mais pensada. Dentre os vários filhos de Bug, nasceu Preto Véio, outro ovelheiro que marcou época pelas mesmas qualidades do pai: Inteligência, resistência e funcionalidade. Foi a prova clara que precisávamos de que tínhamos acertado o choque de sangues.
Em 2006, com objetivo de melhorar o plantel, fomos mais uma vez atrás de genética que nos agregasse qualidade. Dessa vez, através do nosso amigo Paulo Roberto Fetter, o Paulinho, de Rio Pardo-RS, trouxemos para casa um casal de irmãos: Urso Maior, um macho para padrear as fêmeas filhas do Preto Véio (netas do Bug) e Lécy, uma fêmea de sangue aberto para podermos continuar cruzando o Preto Véio. Porém, o que mais nos surpreendeu nesse novo casal foi a movimentação impecável e a postura de imponência. Eram cães perfeitamente aprumados, com movimentação fácil e ambos com lindas pelagens amarelas.
Em 2010, do cruzamento de Preto Véio e Lécy, resultaram vários animais importantes. E o primeiro exemplar a se destacar foi Bella da Sta Terezinha, uma fêmea preta de muita tipicidade, ótimas angulações, ótima linha dorsal e um temperamento destemido pela personalidade marcante.
Em 2011, do mesmo cruzamento anterior, também resultou o espetacular GC Teimoso da Sta Terezinha, um lindo exemplar de pelagem tricolor, que curiosamente, por questões de manejo, acabou ficando na propriedade do empregado da fazenda.
Em 2013, mais uma vez com objetivo de melhorar plantel, trouxemos Bibiana Terra da Sta Terezinha, uma linda fêmea filha de Sophia da Sta Terezinha, de propriedade do nosso amigo Marcio Oliveira, cujo objetivo inicial, era apenas a reprodução com Urso Maior, mas depois, acabou tomando novos rumos.
Em 2014, no meio desse contexto, um dos netos da família Paz, Diego Lima Paz, após concluir os estudos na faculdade de engenharia e retornar a residir em Rio Pardo-RS, e percebendo o potencial genético que tinha nas mão, oficializou o então Canil da Fazenda Santa Terezinha ou, simplesmente, Canil Sta Terezinha, registrando afixo e confirmando uma história que resumidamente reúne tradição de família, cultura gaúcha e amor aos animais. A partir disso, foram feitos os primeiros Certificados de Pureza Racial dos descendentes dos antigos ovelheiros e começamos ali um novo desafio, as exposições morfológicas.
Em 2014, já do resultado dos cruzamentos de Urso Maior com as descendentes de Preto Véio, produzimos vários animais de exceção, com destaque para Filé Mignon da Sta Terezinha (filho da já citada, Bella da Sta Terezinha), um ovelheiro completo, bonito e funcional, o qual consideramos ser o “RP01” da criação.
Em 2015 foi o período mais conturbado. Porque sem nenhum auxílio ou consultoria no meio cinófilo, acabamos percebendo que as decisões inicialmente tomadas no âmbito administrativo se mostraram bastante equivocadas, muito por conta da nossa falta de experiência. Os primeiros exemplares, por questão de economia, foram registrados junto a Sociedade Brasileira de Cinofilia (SOBRACI) e, posteriormente, com a promessa da criação de uma associação autônoma, migrados para a Associação de Criadores de Ovelheiros Gaúchos (ACOG). Entretanto, ambas as opções acabaram se revelando nada satisfatórias. E por um motivo bem simples, a entidade máxima de cinofilia no Brasil, a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), não reconhecia os registros das outras duas, impedindo assim a participação em eventos cinófilos de grande porte. Resultado: As ninhadas de Bibiana Terra da Sta Terezinha em 2015 e Loira Faceira da Sta Terezinha no inicio de 2016, ficaram sem o afixo quando fizemos a última e definitiva migração, dessa vez para a CBKC. Este fato prejudicou o registro de filiação de cães como Conhaque da Sta Terezinha, Bia da Sta Terezinha, Orelhano da Sta Terezinha, Calaveira da Sta Terezinha, Chumbo Grosso da Sta Terezinha, Gaya da Sta Terezinha, Jade da Sta Terezinha, entre outros. Mas de qualquer forma, foi uma aprendizagem, e o mérito pela produção desses excelentes animais nunca será apagado.
Em 2016, o excelente desempenho de trabalho dos nossos cães (a essa altura já notório nas redes sociais), acabou chamando a atenção do público ao redor do mundo. Foi quando fizemos a primeira exportação da história da raça Ovelheiro Gaúcho, para os estados da Virginia e Kentucky, nos Estados Unidos. Um casal de filhotes de GC Teimoso da Sta Terezinha e Doce Negrinha da Sta Terezinha, com 4 meses na época, aterrissaram em solo americano levando consigo todo legado gaúcho. Fato esse que nos encheu de orgulho, principalmente pela divulgação da raça a nível internacional.
Então, nesse mesmo ano de 2016, já com afixo registrado na CBKC, chegou o momento de darmos um passo à frente, entrando com tudo no meio das exposições morfológicas. E realmente estreamos com pé direito, pois logo de cara vieram às primeiras conquistas. Uma dobradinha na Expointer em Esteio-RS, com a Grande Campeã, Bibiana Terra da Sta Terezinha e o Grande Campeão e melhor exemplar da raça, Filé Mignon da Sta Terezinha. Resultados que nos deram a certeza de que estávamos no caminho certo.
Em 2017, mais uma feito marcante: a conquista de Bella da Sta Terezinha como Melhor Exemplar da Raça (MR) na exposição Match do Kennel Clube do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre-RS, julgada pelo Sr Telmo Souza Lima Filho, que é considerado até hoje o maior especialista da raça, sendo um dos quatros cinófilos com colaboração na elaboração do padrão oficial CBKC.
Mas foi em 2018 o ano que tivemos a maior parcela de contribuição para que a raça Ovelheiro Gaúcho mudasse de patamar no cenário nacional das exposições. Tudo começou quando lamentavelmente GC Teimoso da Sta Terezinha (que na época pertencia ao empregado da fazenda) foi atropelado. Esteve à beira da morte, precisou ser resgatado por nós proprietários da fazenda, medicado e recebeu tratamento veterinário com cirurgia. Surpreendentemente se recuperou sem sequelas na movimentação, mas infelizmente devido às graves escoriações na região da genitália, acabou ficando estéril. Mas isso não nos desanimou. Empolgados com a melhora significativa que ele teve nos meses seguintes, e com o objetivo de principalmente celebrar a vida, encaminhamos as pressas o seu simbólico registro e começamos a campanha morfológica. Para nossa grata surpresa o desempenho foi triunfal: Grande Campeão Brasileiro, Grande Campeão Pan-americano, Vencedor das Américas y el Caribe e Grande Campeão da Expointer. Isso tudo acabou culminando com a quebra dos recordes de pontos nos rankings gaúcho, brasileiro e de adversários batidos. Tornando-o exemplar mais pontuado de todos os tempos e escrevendo assim uma das mais lindas histórias de superação da cinofilia brasileira.
Em 2019, o fato que marcou foi uma nova exportação, dessa vez de um filho de Khal Drogo da Sta Terezinha e Bella da Sta Terezinha, na época com 3 meses de idade, que foi enviado para La Paz, no Uruguay. Também em 2019 tivemos a nossa primeira participação na TV de rede aberta, no programa Vitrine Rural da BAND-RS, com o apresentador Amilton Lima, onde foi possível divulgar nossos ovelheiros em um quadro de 10 minutos totalmente dedicado a eles. Uma oportunidade incrível de mostrar esse trabalho tão bonito. Além, é claro, do lançamento do DVD “O Regresso”, do cantor Arthur Mattos, que contava com a faixa “Caseiro”, uma canção dedicada ao Ovelheiro Gaúcho, inspirada nos cães do nosso canil. E fechamos aquele ano com mais uma conquista de MR (melhor da raça), com Diamante Negro da Sta Terezinha, na exposição especializada da Federação Gaúcha de Cinofilia, em Viamão-RS
Em 2020, já com um trabalho totalmente consolidado dentro do meio cinófilo, olhamos para trás com a sensação de dever cumprido. Não somente pela base genética mais antiga que preservamos, mas também pela genética que garimpamos nos últimos anos, de exemplares oriundos de outros proprietários que, diga-se de passagem, alguns tornaram-se grandes amigos.
Nesse ponto é importante esclarecer que o Canil Sta Terezinha adotou, desde o início, como filosofia de trabalho, o “mérito próprio”. Ou seja, todos os ovelheiros que agregaram genética ao nosso plantel, pertenciam a proprietários sem afixo registrado, isso significa que 100% do processo seletivo passou com exclusividade pelos nossos critérios. Dessa forma, agregamos genética de animais como: Bud, de propriedade de Maria Eugenia Osório, de Porto Alegre-RS, em 2016; Toro, de propriedade de Jóia Moraes, de Pantano Grande-RS, em 2017; Chimango, de propriedade de João Carlos Alves, de Pelotas-RS, em 2018; Luna, de propriedade de Vanessa Schott, de Santa Rosa-RS, em 2019; e Nativa, da criação de Alexandre Abreu Alves, de Uruguaiana-RS em 2020. E aqui ressaltamos a nossa gratidão em forma de agradecimento público a todos esses proprietários pela oportunidade de parceria.
Hoje podemos dizer que as qualidades dos ovelheiros Santa Terezinha estão transcendendo gerações, e quem adquirir um exemplar desses, automaticamente irá desfrutar do melhor que a raça pode oferecer. Seja para trabalhar no campo pastoreando gado, seja para destacar-se com sua beleza em uma exposição morfológica, ou seja simplesmente para conviver na companhia de um pet extremamente dócil.
Esses tantos resultados nos mostram não somente um balizador de qualidade, mais uma incessante dedicação em continuar produzindo o melhor. De forma que nunca iremos nos acomodar e sempre estaremos nos esforçando para levar o cão Ovelheiro Gaúcho cada vez mais longe.
De fato que é um orgulho criar essa raça genuinamente do Rio Grande do sul, e mais orgulho ainda em ter percorrido uma trajetória de sucesso. Estamos onde queríamos estar, produzindo o que queríamos produzir, fazendo todos os dias o que amamos, sem prejudicar ninguém. E assim será por todo o sempre!
Grande abraço aos nossos seguidores, em especial a você que desfrutou de toda essa leitura resumida da nossa história.
Rio Pardo, 08 de Junho de 2020.
Seguem algumas curiosidades sobre nosso canil:
1. De 2014 até hoje, 91 filhotes foram produzidos na nossa maternidade.
2. Estes filhotes foram encaminhados para todas as regiões do estado Rio Grande do Sul, além de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Maranhão, Uruguai e USA.
3. Estimamos que hoje existam mais de 300 exemplares, netos e bisnetos dos nossos ovelheiros nascidos com os novos proprietários.
4. Muitos filhotes foram encaminhados para outros criadores entusiastas pela raça. Hoje ao menos 8 canis registrados (fora nós) utilizam genética Sta Terezinha para melhorarem seus planteis.
5. Nos últimos três anos, 14 dos 16 exemplares vencedores de MR (melhor da raça) em julgamento de Exposições Match ou Especializadas, possuem a nossa genética direta ou indiretamente. Um desempenho positivo próximo a 90%.
6. Absolutamente 100% dos filhotes encaminhados para fazendas e estâncias, que passaram por treinamento, comprovaram instinto funcional satisfatório para trabalhos com rebanhos, assim que alcançaram os 12 meses de idade.
7. Nas mídias sociais, a página do Canil Sta Terezinha alcançou mais de 10 mil seguidores. Com alguns vídeos do trabalho com gado chegando à casa das 100.000 visualizações.
Para os entusiastas que tem curiosidade sobre o perfil de cachorro Ovelheiro que o Canil Santa Terezinha busca produzir na criação, ai estão os 10 critérios de seleção adotados por nós:
1) Ter beleza estética, no sentido de ser agradável aos olhos, passando aquele ideal de beleza e elegância que todo cão tem, mas que uns tem mais que outros.
2) Ser indiscutivelmente ovelheiro. Selo racial é muito importante para nós. É uma questão de identidade, um ovelheiro deve parecer um ovelheiro.
3) Ser correto, no sentido de não apresentar defeitos graves. Mesmo que em algum aspecto ou outro o exemplar não esteja propriamente no gabarito, mas que no conjunto da obra não deixe nada a desejar.
4) Ter funcionalidade, pois nunca compreendemos aquela ideia, sem fundamento, de cachorros só para bonito. Ovelheiro precisa ter uma serventia, no caso, pastoreio.
5) Ter bom caráter. Independente de possuir um temperamento pacato ou aceso, ter caráter é fundamental. Seja em gente, seja em cachorro, isso é imprescindível.
6) Ser saudável. Porque rusticidade, agilidade e residência são características marcantes da raça. Portanto, esbanjar saúde faz-se necessário.
7) Possuir raízes. Partindo do princípio de que cada animal do nosso plantel deve ser derivado de, ao menos, uma das linhas de sangue tradicionais da nossa fazenda. Porque não faria sentido algum comprar ou ganhar um exemplar de outra criação. Optamos por conquistar nossos resultados por mérito próprio, mesmo que isso demande mais tempo.
8) Ser um bom reprodutor. Um grande cão obrigatoriamente tem que passar suas qualidades para as próximas gerações. Esta pode ser uma característica pouco importante para quem apenas usa um cachorro, mas para quem cria é fundamental. Infelizmente os nossos ovelheiros não são eternos. É portanto estratégico que a descendência de um grande ovelheiro supere, ou no mínimo conserve as suas qualidades.
9) Ser o mais completo possível, tentando ao máximo cumprir com todos os critérios citados acima, mesmo que isso pareça impossível, mas que pelo menos chegue próximo.
10) Transmitir amor. Porque não existe nada mais satisfatório do que olhar com aquela sensação de dever cumprido para o animal que você criou com tanto carinho e dedicação.
Mais uma vez, muito obrigado a todos os nossos seguidores e admiradores. Estamos sempre à disposição.