17/03/2023
§ 39
Os adeptos da escola oficial de medicina já haviam notado isto há muitos séculos; observaram que a própria natureza não pode curar qualquer moléstia por meio de outra, por mais forte que seja, se a nova moléstia for dessemelhante da já presente no organismo. O que pensaremos deles, que não obstante continuaram a tratar as doenças crônicas com alopatia, isto é, com medicamentos e receitas capazes de
produzir que estados mórbidos Deus sabe, quase invariavelmente dessemelhantes da moléstia a ser curada!
E muito embora os médicos não tenham até agora observado a natureza com atenção, os fracos resultados de seus tratamentos deveriam ter-lhes ensinado que estavam em caminho impróprio, falso.
Não percebiam eles (segundo seu costume) que, quando empregavam um tratamento alopático agressivo, em uma doença crônica, criavam apenas uma doença artificial dessemelhante da original, que, simplesmente suprimida, apenas suspendia o mal original, o qual, contudo, sempre retornava, como não podia deixar de ser, assim que as forças do paciente, diminuídas, não mais admitiam a continuação dos ataques alopáticos à sua vida? Assim, o exantema da sarna desaparece sem dúvida rapidamente com o emprego de purgativos violentos, repetidos com frequência; mas quando o paciente não pode mais suportar a moléstia dos intestinos (dessemelhante), e já não pode tomar purgativos, então a erupção cutânea irrompe como antes, ou a Psora interna se revela com maus sintomas, e o paciente, além de seu mal antigo que não se atenuou, tem de suportar as misérias de uma digestão estragada e dolorosa, e, além disso, uma fraqueza igual.
Assim, também, quando os médicos oficiais mantém as ulcerações artificiais da pele e exutórios no exterior do corpo, com o fim de erradicar uma doença crônica, não podem jamais atingir o seu objetivo desta maneira, e não podem jamais curá-la assim, visto que tais ulcerações cutâneas artificiais, são bem estranhas e alopáticas à
afecção interna; mas visto que a irritação produzida por escarif**ações (*) é, às vezes, um mal mais forte (dessemelhante) que a doença interna, esta última é, às vezes, por ela silenciada e suspensa, por uma ou duas semanas. Mas é apenas suspensa e por muito pouco tempo, enquanto as forças do paciente se esvaem pouco a pouco. A epilepsia, suprimida mediante escarif**ações (*), por muitos anos, invariavelmente volta, e de forma mais grave, desde que se deixe que sarem, de acordo com Pechlin
e outros. Mas purgantes para a sarna e exutórios para epilepsia, não podem ser agentes perturbadores mais heterogêneos, mais diferentes – não podem ser modalidades de tratamento mais alopáticos, mais exaurientes – que as receitas comuns, compostas de ingredientes desconhecidos, usados comumente para outras formas de moléstias. Estas, da mesma maneira, nada fazem a não ser debilitar, e somente suprimem ou suspendem o mal por período curto, sem serem capazes de curá-lo, e quando empregadas por períodos mais extensos, sempre acrescentam um novo estado mórbido à doença antiga.
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(*) N.T. No alemão usa-se “Fontenelle”, que traduzimos por escarif**ações.