
06/04/2021
A exposição de fotografia online, intitulada "Retratos de Estimação", continua disponível no YouTube.
Para quem ainda não viu, aqui f**a o link:
https://www.youtube.com/watch?v=L_OEqG7iQIc
Especial agradecimento ao MIRA FORUM e em particular ao Joao Lafuente e à Manuela Matos Monteiro pelo convite, pelo carinho e pela curadoria, com um maravilhoso texto sobre o nosso projeto:
"O trabalho apresentado pelo fotógrafo Paulo Fernando suscita-nos um conjunto de reflexões sobre a mudança das relações entre os seres humanos e os animais que mudou muito em Portugal nos últimos anos fruto do aumento do nível de vida da população.
Comecemos pela linguagem que reflete a mudança de condições e comportamentos levando a precisões terminológicas para os designar. Assim, o termo “animais domésticos” tem vindo a ser substituído por “animais de estimação” para referenciar um animal humanizado que tem como finalidade a companhia, o entretenimento dos seus donos, definição estabelecida pelo Decreto-lei 314/2003, 8445. Assim, todos os animais de estimação são animais domésticos, mas nem todos os domésticos são de estimação e o que os distingue é o afeto, as relações de proximidade e de intimidade com os seus donos.
Muitos psicólogos relacionam as relações especiais que se estabelecem entre humanos e animais nas sociedades ocidentais economicamente desenvolvidas ao progressivo processo de individualização. Mais distantes e independentes das relações tradicionais - com a família e grupos sociais – há uma disponibilidade afetiva e relacional que encontra nos animais novas formas de dependência. Os animais vivem nas casas das pessoas com um notável conforto, são acompanhados clinicamente o que lhes prolonga a vida, são tratados e cuidados com toda uma gama de produtos e acessórios que tornou esta linha de consumo muito relevante. É cada vez maior a área dedicada aos animais nas superfícies comerciais e multiplicam-se as clínicas veterinárias, hotéis e já são muitas as pessoas cuja profissão é ser “acompanhante” dos animais (“dog walking”, “pet sitting”) ...
A inserção dos animais nas famílias reflete-se no espaço que lhes é atribuído, o tempo que lhes é dedicado e até a forma como são nomeados: os nomes mais comuns como Farrusco, Bobby,Tareco Traquina, Catita, Leão, Bolinha, Piasca dão lugar a outros nomes associados a figuras públicas como Beatle, Obama, Miró, Michelle, Sting, Che, Ringo...Ultimamente, somos surpreendidos e baralhados quando os nomes que eram exclusivos dos humanos são atribuídos aos animais: Maria Amélia, Inês, Gaspar, Zé, Gaby, Xavier ... Esta é uma das manifestações de uma progressiva antropomorfização dos animais a quem são atribuídos sentimentos e emoções idênticas às dos humanos sabendo que as relações de dependência do animal asseguram a retribuição do afeto e cuidado. A probabilidade de desapontamento é menor e pede-se ao animal o que não se pode pedir a um humano: lealdade absoluta, carinho e entrega total. O aumento da autoestima, o combate à solidão, o desenvolvimento de interações sociais com outros donos de animais e da relação com a natureza são algumas das razões que justif**am a adoção do progressiva do termo “animais de companhia”.
Haver um estúdio dedicado à fotografia destes animais é uma consequência de uma nova realidade em que os animais passam a ter um novo estatuto nas sociedades com um desenvolvimento económico compatível. E assim se descobre uma nova realidade estética na fotografia com exigências técnicas mas sobretudo afetivas. E o trabalho do Paulo Fernando reflete esta relação que não se aprende num manual de instruções. É uma condição que é inerente à sua forma de estar no mundo e de se relacionar com seres animais e humanos."
Manuela Matos Monteiro