13/06/2024
Estou num situação difícil, talvez a mais difícil da minha vida. Nunca me senti assim e tenho uma razão muito forte para isso. É o chegar à beira de tal idade que não se pode dizer.
Olho-me e não me reconheço. Não acredito. Não pode ser, digo eu.
À exceção da minha mãe, todos os meus parentes mais próximos já estavam do lado em que ninguém sabe onde f**a e donde ainda ninguém saiu. Talvez Jesus Cristo, dizem.
Os dias correm, faço por não pensar, as estações correm, os filhos passam, os netos também, atropelam-se na minha vida os acontecimentos, sempre tentando não pensar. Quer dizer, eu julgo que não penso, mas a data está a aproximar-se tão velozmente que vou ter de utilizar uma estratégia drástica para a ultrapassar.
Toda essa gentinha que anda por aí feliz ainda está no princípio da década, por isso não têm de se preocupar para já. Alguns ainda nem a ela chegaram. Outros, como eu, já lá chegaram à tal idade que não se pode dizer, não sei o que sofreram, se é que sofreram e até há quem nem se importa por causa da conversa dos mimos. Ao receber esses mimos conseguem manter o equilíbrio e continuar a ser felizes.
Eu olho para mim e não me vejo. Ainda hoje fui fazer madeixas e gelinho. Vou ao ginásio, Deu-me na cabeça arranjar um hobbie já em idade serôdia. Respiro normalmente, tenho uma dorzita aqui e ali. Isto é normal? Acho que não é. Preciso de arranjar alguém que cuide de mim, que cuide de pessoas idosas. Eu sou uma pessoa idosa. Como é que isto aconteceu sem eu dar por isso?
Antonieta Barata